terça-feira, 24 de abril de 2012

2012-04-20 a 24 - Salar de Uyuni e região


2012-04-20 a 24 - Três dias em Uyuni e região andina.
Nossa viagem a Oruro estendeu-se até as 21h15. Tínhamos a recomendação de quatro hoteis, e decidimos, pelo adiantado da hora, nos alojar no primeiro da lista: Hostal Repostero. Modesto, mas a Carmen aprovou os aposentos, limpos e com boa roupa de cama, além de um banheiro razoável.
Mal deixamos as malas no quarto, baixamos para procurar um lugar para jantar. A senhora da recepção nos recomendou um bem próximo ao hotel. Ambiente agradável, com muitos casais, filhos, e crianças pequenas. Nosso cardápio foi dois bons bifes, coisa que estávamos precisando. Assim como é difícil reconhecer um japonês no meio de um grupo de japoneses, pode-se dizer também que é difícil reconhecer um boliviano no meio de vários bolivianos. Os descendentes dos indígenas, claro. Assim, a gente vê um jovem na rua e parece o rapaz que atende no hotel. Pois aconteceu que, ao encerrarmos a nossa janta, quando queríamos receber a nossa conta, fazendo um sinal de escrever com a mão, acenei para um senhor que passava segurando uma pequena folha de papel. Roupa escura, idêntica a do pessoal do restaurante, parecia um dos garçons. Ledo engano. Esse senhor já havia passado outras vezes para lá e para cá, mas pelo jeito não tinha nada a ver com o atendimento do restaurante. Me deu uma olhada e seguiu seu caminho. Daqui a pouco chegou o nosso garçom verdadeiro. Voltamos ao hotel e fomos direto para a cama. Antes liguei a TV e soube que o Inter classificara-se na Libertadores às custas do Santos. Não estou conseguindo acompanhar os jogos de tênis de Monte Carlo, apenas soube alguns resultados de vitórias de Nadal, Songa, e Jokovik. Como estávamos nos sentindo bem, não tomamos nenhum comprimido para evitar o soroche. Resultado: acordei pelas 3 da manhã, novamente com dor de cabeça. Levantei e tomei meio comprimido de parafetanol, o que bastou. Acordamos pela manhã sem nenhum compromisso turístico. Oruro é uma cidade pequena e o centrinho muito movimentado. As ruas são estreitas e repletas de casas velhas. Mas parece que todo mundo costuma sair às ruas. Muita gente circulando. Farmácias existem às dezenas, cada uma com aparência pior do que a outra. O que continua me impressionando é a forma de comércio que a população utiliza. Milhares de feirantes espalham-se pelas ruas, sobre as calçadas, nas pequenas aberturas das construções, oferecendo seus produtos duma forma passiva, sem agressividade aos passantes, diferentemente do que acontece no Brasil. A gente caminhando nas calçadas encontra vendedores de tudo que é tipo de produto, desde eletrônicos à sementes, passando por roupas, comida, móveis, panelas, etc. O Mercado Público de Oruro é uma festa. Pouco espaço para caminhar, produtos amontoados em todos os cantos. Há muito mais vendedores do que compradores. Eu e a Carmen ficamos imaginando quem compra tudo o que é oferecido. Milhares de pontos de venda dos mesmos produtos. É impressionante. Comprei numa farmácia oito comprimidos contra soroche, pois resolvemos que vamos nos prevenir antes de sofrermos os efeitos das alturas. Ambos esperamos conseguir uma adaptação à altura já nos próximos dias, mas durante os três dias no Salar vamos estar com recursos à mão. Oruro fica uns 3700 m acima do nível do mar e com nossas caminhadas pelo centrinho cansamos bastante. Voltamos ao hotel e aproveitamos que tinha internet para por em dia as correspondências e postar fotos e textos. Almoçamos no próprio hotel e depois fomos puxando nossas maletas até a estação ferroviária, que fica a quatro quadras do hotel. Compramos uns salgadinhos e embarcamos. No horário, o trem partiu. Estamos num vagão executivo, com poltronas melhores que qualquer ônibus ou avião brasileiros. Logo no vagão atrás há um restaurante, para o qual já fizemos nossos planos de ter aquele jantar de viagem turismo. Mas não aguentamos e já estivemos por lá tomando um pisco. Ao nosso redor, gente de todo o mundo. Jovens, de meia-idade e adultos. Uma mulher perdeu a carteira com as passagens antes da partida e foi um Deus nos acuda dentro do vagão. Reviramos tudo e não achamos a tal da “carteirita negra”. Não sei como ela vai resolver a questão. A paisagem que se vê é algo sensacional. Logo na primeira meia hora, a estrada de ferro passa entre imensos banhados rasos, semelhantes às nossas lagoas costeiras no RS. Nossas câmeras não pararam de bater fotos de bandos de flamingos que saiam apavorados com a aproximação do trem. Na primeira revisão notamos que muitas fotos saíram tremidas Uma pena. .Depois passamos por criações de lhamas e de ovelhas. As imensas áreas que se estendem tanto para leste como para oeste tem aspecto de pouco férteis, o terreno quase branco com vegetação rasteira e poucas plantações. Nota-se o vestígio claro da presença salina denunciado pela brancura depositada nos campos. Nessas áreas espalham-se casebres de barro com telhados de palha e muito raro vê-se agricultores trabalhando. Nos pequenos vilarejos pode-se ver crianças brincando ou também em grupos saindo de escolas. Depois de duas horas de trem passamos por uma cidadezinha. Como sempre, todas as paredes sem qualquer reboco e muitas feitas com tijolos grandes, de barro aparentemente feitos à mão. A placa dizia Chalapata. .O trem diminuiu a marcha e até parecia que pretendia parar, mas não, seguiu adiante. No horizonte, à oeste, nuvens negras indicam chance de chuvas. Tomara que não inventem de dirigir-se ao Salar. O dia agoniza. O Sol, já não se vê. Apenas uma faixa estreita alaranjada dá sinais de que ainda não ofuscou-se de todo. As montanhas ao longe são todas esverdeadas, num tom fraco, e provavelmente revestidas desse capim ralo que também abunda na planície. Uma estrada asfaltada ladeia a ferrovia desde Oruro. De longe parece uma boa estrada pela velocidade imprimida pelos veículos que trafegam. E há um bom movimento de todo tipo de veículo. A Carmen está aqui ao meu lado na janela, mas agora com os olhos num filme que está sendo exibido no vagão numa tela 32 polegadas. De vez em quando saca a câmera e tira umas fotos. O ocaso está mostrando fantásticas imagens, mutantes, imprevisíveis. Há pouco um funcionário entregou a todos os passageiros tickets para o sanduiche e a Coca-cola que serão servidos de cortesia.
Intervalo.

2012-04-19/20 – Rumo ao Salar de Uyuni.

O sanduiche servido no trem foi excelente. Pãozinho macio e coca-cola. Depois, já noite, a distração foi ficar vendo filme. Aproveitei para jogar uns spider-solitaire. Mas logo cansei. Lá pelas 20h30 fomos jantar. Novamente optamos por bifes mal passados. Não erramos. Uma delícia. Não sei porque a gente anda com vontade de comer carne. Pontualmente chegamos em Uyuni às 22h20. Aí tivemos de esperar pelas maletas que haviam sido despachadas. Mas o serviço foi rápido. O problema era que estava frio e qualquer minuto de espera era longo. Pegamos as malas e... e agora? Sabíamos que Uyuni é pequena, mas não tínhamos a menor ideia como chegar ao hotel. Perguntamos e ficamos sabendo que o hotel Tambo-aymara ficava a cinco quadras da ferroviária. Ora, pegamos as nossas maletas e saímos caminhando pelas ruas e achamos fácil. Havia gente ainda andando pelas ruas quase vazias. Um hotel muito agradável, coisa que esperávamos, pois já o tínhamos analisado pela internet. Novo, limpo, bonito. Foi uma noite gostosa, bem dormida. De manhã cedo, pelas 8h30, saímos em direção à rodoviária. Era preciso comprar as passagens para Potosi. Incrível o preço das passagens. Uma distância semelhante a de Florianópolis a Curitiba, cinco horas de viagem, e o preço das duas passagens foi de 60 bolivianos. Ou seja, dez reais aproximadamente para cada um. Pelo que vimos, os ônibus parecem ser da mesma qualidade que os nossos. Depois fomos procurar a empresa responsável pelo tour em si. Checamos tudo e voltamos ao hotel. Claro que durante esses percursos muitas fotos foram tiradas. Às 10h40 chegou a Van já com os nossos companheiros de viagem. O guia-motorista chama-se Grober, 25. Viajam conosco Tom e Yollanda, 32 e 29, canadenses de Toronto, e Tobias e Nicolas, 25 , alemães de Munich. O primeiro destino foi o Salar. Fica a 25 km de Uyuni. A Carmen ocupou o lugar do acompanhante do motorista, eu logo atrás dela, os dois canadenses ao meu lado e os alemães atrás. Adianto que nos dias seguintes fizemos rodízio de lugares, tomando-se dois a dois, pois estávamos em três grupos de dois. Em 20 minutos estávamos lá. De início passa-se por um pequeno povoado ocupado pelos trabalhadores da extração e processamento do sal. Em seguida entra-se na área de coleta do sal. Os trabalhadores, com uso de pás, retiram o sal da superfície do salar amontoando-o em montes de cerca de um metro de altura. Então a gente vê centenas daqueles cones acumulados na área do salar. Depois, passam caminhões recolhendo esses montes. A retirada – eu diria raspagem - se dá em camadas de aproximadamente dez centímetros e o sal é deixado nesses montes para secar durante uma semana e ficar mais leve. A espessura do salar é de sete metros aproximadamente e sua superfície é 12 mil quilômetros quadrados. A singularidade do salar é o que mais impressiona. Uma vasta superfície que se perde no horizonte, apenas limitada pelas montanhas ao longe, totalmente branca, ofuscante para a vista mas de impressionante beleza. Tiramos várias fotos tentando fazer o que todo turista faz: brincar com ilusão de ótica. Visitamos também um hotel de sal que existe nessa área inicial do salar. Havia uma festa com um monte de jovens que dançavam ao som de umas caixas sonoras ao lado do hotel. Parecia uma festa de hippies. Entramos. Um ambiente amarelado, camas espalhadas pela sala grande de entrada, gente deitada nela, outros em roda de uma mesa tomando alguma coisa. Havia um corredor com salas laterais. Um cheiro de falta de banho bem saturado. Batemos umas fotos e saímos dali. Voltamos às fotos e depois almoçamos. O almoço na tour é feito sobre a tampa trazeira da van, que abre na horizontal em forma de mesa. Nesse primeiro dia, houve frango ensopado, arroz, salada e Coca-Cola. Bananas de sobremesa. Tudo contadinho. Um para cada um. Depois do almoço retornamos e passamos por Uyuni sem parar tomando o rumo de San Cristoban, uma pequeno poblito bem longe ao sul. Como sempre, a viagem é cheia de atrativos pela beleza das paisagens desérticas, montanhas coloridas e céu impecavelmente azul. Passamos por raros povoados todos com suas casas muito rústicas, feitas com tijolos de barro cinza, maiores do que os nossos, quase do tamanho dos tijolos pré-moldados. Coberturas de telhas de zinco seguras por pedras são as mais comuns. Muita simplicidade. Em San Cristoban paramos para as necessidades e para ver o que vendem no mercado central. Há bastante produtos, mas o mercado é bem pequeno. Compramos 2 maças e 1 romã, que aqui chama-se granada, aliás, nome muito sugestivo. A estrada não tem pavimentação mas é boa. Depois de San Cristoban fomos até o local de nosso primeiro acampamento localizado num poblito denominado Villa Mar. Então conhecemos a nossa pousada. Foi engraçado ver a cara de todos os turistas, inclusive nós, deparando com aquele quarto grande com seis camas. Seria o nosso local de pouso naquela noite. A habitação tinha dois pisos e o nosso quarto ficava no de cima.
Era tardinha e o sol se punha. O frio entrava rachando. Não havia vento e isso facilitava as coisas. Sai para tirar umas fotos e a Carmen veio atrás, mas antes dela me alcançar, eu já estava regressando, sentindo que o frio penetrava nos casacos. Em seguida foi servido um chá quente com bolachas a título de boas-vindas. Nem sei como consumimos o tempo até o jantar. De início, veio uma sopa quente – que coisa boa uma sopa quente num dia gelado – de quinua com batatas e verduras, depois batatas assadas com um belo corte de lhama, eu diria aquele pedaço T equivalente com filé mignon e contra filé, assado. Delícia. Daí, chegou a hora do banho. Só que a hospedagem tem um banheiro que é assim: uma sala com dois boxes de chuveiros e dois boxes com vaso. Unisex. As portas não tem trincos. E além disso, um frio do diabo. Resultado: cinco não tomaram banho, foram direto dormir, entre eles, eu. Quem foi tomar banho foi a dona Carmen. Depois ela esnobou dizendo que o chuveiro era excelente, com água quente em tal abundância que era preciso incluir a água fria. O resultado de tudo foi que no dia seguinte sentia-se de vez em quando um cheiro de budum dentro da nossa van. E não era de mim. Havia vários suspeitos. Quanto à noite, é preciso dizer que as cobertas fornecidas são excelentes, pesadas, resolvendo qualquer problema de frio. Nós nem usamos os sacos de dormir que nos recomendaram. De noite me entupiu o nariz e a minha garganta estava seca assim como a boca toda. Tive de levantar e ir lá no banheiro, que fica no primeiro piso, assoar o nariz. Só que o chão de tábuas do nosso quarto range adoidado. Não adiantou os meus cuidados. Vi que muita gente se remexeu. O despertar era as 6h00. Só que deu 6h15 e todo mundo no maior ronco. Levantei e comecei a fazer barulho. A Carmen me ajudou. Às 6h50 estávamos no refeitório para o café quando o combinado era às 6h30. Mas tudo Ok. Saimos rumo à Lagoa Colorada. A estrada de terra muito estreita, sem movimento, maravilhosa em termos de visual. A toda hora bandos de vicunhas, de lhamas e raramente ovelhas. Notei que as vicunha são muito mais assustadas do que as lhamas. E uma coisa interessante é que as lhamas são marcadas com um laço nas duas orelhas. Indicam a quem pertencem. Passamos por riachos em que eu não me aventuraria com o Stilo. Em alguns, a água ainda brincava com camadas de gelo que soltavam-se com nossa investida. A relva ao lado da estrada mostrava-se manchada de branco em vários pontos. Dificilmente vê-se cercas. As planícies que cercam a estrada até as montanhas são desérticas e muito planas. Areia e pedras, como o leito de uma estrada de pedras. A vegetação é rala, baixa, e dominada por uma planta denominada Tola, que é um arbusto pequeno, cerca de meio metro se tanto e é utilizada como lenha. Subimos uma serra e começamos a sentir a diminuição da temperatura. Os riachos apresentavam-se parcialmente congelados e via-se a estrada subindo as montanhas à nossa frente. Chegamos no nível 4 mil metros. Numa curva o Grober estancou a van. Queria nos mostrar dois coelhos postados nas pedras da estrada, a uns 10 metros à frente. São os chamados Viscachas. E os dois animais ficaram ali nos fitando e fazendo pose para os fotógrafos. Mais um pouco e chegamos à nossa nova pousada. Esta tinha apenas um piso e novamente estávamos em frente a um quarto com seis camas. Deixamos as nossas bagagens e rumamos para a Lagoa Colorada. Esta lagoa está num parque nacional denominado Reserva Nacional de Fauna Andina Eduardo Avaroa. Paga-se 150 bolivianos por pessoa para entrar no parque. Em pouco tempo estávamos no local escolhido por Grober para apreciarmos a Lagoa Colorada. Uma lagoa com profundidade de 40 cm e com uma cor alaranjada para vermelho acentuada. Realmente essa lagoa é algo de fantástico. Quando não há vento, como era o caso, fica um espelho, refletindo as montanhas próximas. Centenas de flamingos, principalmente o Andino, que é o tipo maior, chegando a 1,20 m, segundo o nosso guia. Há também o Chileno, um pouco menor e um outro, cujo nome não me recordo, mas parece ser James, menor ainda. Tiramos várias fotos e depois rumamos para o próximo ponto. No trajeto cenas espetaculares das montanhas nevadas e também das outras, cujo colorido prendia permanentemente nossa atenção. Passamos por vários vulcões, todos inativos, mas majestosos, com suas coroas nevadas. O céu estava limpo, sem nenhuma núvem. Adiante, passamos por um local onde o guia parou a van e nos apresentou as montanhas denominadas de Sa;lvador Dali. O espanhol pintou um quadro cujas imagens assemelham-se bastante com aquelas paisagens andinas embora nunca tenha estado lá. Em vários lugares pedíamos para o guia parar a van para registrarmos o que víamos. Andamos bastante e chegamos à Lagoa Verde, o ponto mais longo do tour. É outra lagoa que tem uma beleza fora do comum. Bem, se não fosse assim, não vinha gente de todo o mundo apreciá-la. Uma cor verde claro, viva, e cercada de montanhas. Nesse local almoçamos. Como sempre, nossa mesa era a porta traseira da van. O cardápio era frango à milanesa, muito gostoso, frio é claro, acompanhado de arroz com verduras e salada. Bebida: Coca. Sobremesa: bergamota. Ficamos bastante tempo por lá, e antes de sair, um ventinho frio se fez presente. A temperatura devia estar em torno de uns 6 graus. Saimos de lá e fomos para as águas termais. Por baixo eu estava com um calção para tomar banho e a Carmen havia levado o seu maiô. Quando chegamos o tanque de água termal estava lotado, cheio de gente. Desistimos. Um tanque pequeno, de uns oito metros de diâmetro, cheio de turistas, imaginem a qualidade da água, mesmo que seja renovada. Nossos companheiros de viagem todos foram. Depois sofreram com o vento frio que se fazia presente. Os alemães trocaram de roupa no meio da estrada. Dali rumamos aos geisers. Foi o ponto mais elevado da viagem. Meu gps indicava 4950 m. O guia nos deixou no local e subiu com a van até o fim dos vapores, a uns 500m acima. Os geisers bolivianos têm uns 20 poços abertos, uns grandes outros pequenos, outros apenas um furo na terra, todos em atividade. Filmei alguns deles onde a lama estava agitada, parecendo um doce de leite fervendo e soltando bolhas na panela. A cor é cinzenta clara. Depois de apreciarmos o fenônemo, subimos até a van e chegamos bufando, pois nessa altitude a gente perde a resistência. Ali terminou o nosso dia. Embarcamos e rumamos para a pousada.
A janta teve macarronada. Com a fome, qualquer comida entraria perfeita, ainda mais no frio. Mas a macarronada, simples, com um molho de tomate e queijo ralado, estava ótima. A empresa de turismo ofereceu uma garrafa de vinho. Observação: esta pousada não tem chuveiros. Por isso, quem tomou banho nas águas termais, tomou banho, quem não tomou …. já viu.
Ali tinha energia elétrica das 19 as 21 horas. Só que, neste dia, durou das 18h30 até as 20h30. Ou seja, depois das 20h30 todo mundo estava convidado a dormir. E assim foi. Confesso que foi a melhor noite minha em toda a viagem até a data. Creio que me deitei pelas 21h e acordei às 7h00 do dia seguinte. Usamos todas as cobertas. Pesavam p'ra caramba. De manhã a temperatura estava próxima de zero. Tomamos nosso café, que era água quente com pó de café ou chocolate. Comemos o nosso pão com manteiga ou com doce de leite, e rumamos para ver a árvore de pedra. Os nossos jovens alemães nos ofereceram os lugares a que teriam direito nesse dia. Assim, permanecemos no banco intermediário e eles foram para a galera. A árvore de pedra é uma das formações semelhantes a que temos em Vila Velha, no Paraná. Só que aqui formações desse tipo existem às dezenas. Tiramos várias fotos e continuamos. Chegamos ao Villa Rochas. Primeira providência minha foi achar um banheiro ao ar livre, isto é, um cantinho bem escondido e longe de tudo. Ainda bem que ali foi fácil consegui-lo. Eu estava meio desarranjado desde o dia anterior e tinha que tomar uma providência nos locais possíveis. Deixei a minha marca. Ninguém vai notá-la, garanto. Villa Rochas tem formação rochosa semelhante às nossas de Vila Velha, Paraná, só que são montanhas que se estendem a perder de vista. O local onde paramos é um ponto especial, com várias formações menores, mas muito interessantes. Nesse local almoçamos. O cardápio oferecia arroz, atum, e salada. E Coca. Dali nos embrenhamos no altiplano, onde pode-se escolher o caminho sobre a planície de pedra e areia. É praticamente uma estrada de uns mil metros de largura. Só se vê veículos 4x4. Não vimos automóveis nessas paragens. Depois de muito tempo a planície foi estreitando e estávamos com a van num caminho estreito, de carroça diríamos, cheio de buracos e pedras. Sofremos um bocado com solavancos. Encontramos um lago chamado Lago Onda onde havia construções de trinta anos atrás, de tijolos de barro cinza, abandonadas. Uma delas era uma fazenda de criação de lhamas cujos filhos dos donos resolveram sair ao mundo ao invés de ficar criando os bichos. A outra, uma pousada que queria aproveitar a beleza do lugar, mas depois deparou-se com problema de abastecimento de água e outros e o dono desistiu. Uma pena, pois o lugar é de uma beleza fora de série. Depois dessa parada, continuamos encontrando pequenas lagoas e muitas lhamas, vicunhas e até duas perdizes. Chegamos ao entroncamento com a estrada que leva ao Chile e tivemos uma bela vista do vulcão Nicancabur. Andamos e andamos até chegar na cidadezinha em que havíamos parado na ida: San Cristobal. Ficamos meia hora. A Carmen aproveitou para tirar foto da igreja local e eu fiquei comendo a romã que comprara dois dias antes neste mesmo lugar. Dali novamente andamos e andamos até chegar no cemitério de trens. Contei umas 23 locomotivas velhas enferrujadas e semi-destruídas, mas deveria ter outro tanto de vagões de carga de carvão. Tiramos algumas fotos e estávamos de volta a Uyuni, encerrando o tour.
Tentamos arrumar uma ida relâmpago até o salar para ver o por do sol, mas já era tarde e nos recomendaram na agência a desistir, por causa do horário. Não daria tempo.
No hotel tomamos um banho daqueles de lavar até a alma. Em seguida, pegamos umas referências no hotel e fomos jantar no Loco. É um especialista em carne de lhama. Pedimos dois pratos idênticos de lhama ao molho de queijo rochefort, o que estava uma delícia. Agora, eu estou aqui digitando e a Carmen num sono reparador. São quase 21h do dia 24.
Continua em Potosi.
Potosi. Em Uyuni levantamos pelas 7h e tivemos o nosso breakfast. Depois arrumamos as coisas e fomos para a rodoviária. A rodoviária é como a nossa antiga de Floripa, só que não é triangular e sim numa rua comum. Ao chegar, nos apresentamos e a surpresa: nossos tickets estavam com data de 24, mas a secretária esqueceu de registrar nos nossos nomes. Resultado: não havia lugar. Correram para uma empresa vizinha que tinha lugares e nos arrumaram assentos. Mas ao atravessarmos a rua vimos que os ônibus de tal empresa eram pequenos e velhos. Voltamos à agência Imperador e reclamamos dizendo que não aceitávamos a troca e que eles transferissem alguém que tivesse comprado a passagem depois de nós para aquela outra empresa. A mulher concordou mas nos colocou lá no fundo do ônibus. Bom, pelo menos fomos num ônibus melhor. Eu estava com uma diarréia terrível e com medo de precisar parar no caminho. O ônibus saiu no horário. A primeira hora da viagem foi péssima. Havia obras e nosso ônibus andava sempre pelos desvios, poeirentos e esburacados. Finalmente veio o asfalto. Esta viagem foi a viagem mais alta que já fizemos, vencendo aquela feita no Peru. Andamos sempre próximos dos 4 mil metros. Foram quatro horas de montanhas inóspitas, onde apenas os capinzinhos comuns já mencionados crescem. Os casebres que se vê são paupérrimos e muitas vezes abandonados. A Carmen tirou centenas de fotos que serão filtradas mais tarde. Fui concentrado durante as primeiras duas horas, quando houve uma parada para lanche. Queria sair logo, mas todo mundo se levantou e fiquei preso no fundo do ônibus. Calma. Vai dar tempo. Devagar. Quando consegui sair não encontrei nenhuma placa de “banos”. Fui a um bar muito pobre e perguntei. O moço me disse que era ali do lado. Fui até lá rápido. As gurias européias, umas louras de um e oitenta para mais estavam lá procurando também por banos. Havia umas quatro. Eu e a Carmen pensamos na Sissa vendo-as com suas enormes mochilas às costas. Como elas estavam meio moscas-tontas, me meti no meio e abri caminho em direção a um dos dois cubículos. Entrei. A porta era de tábuas verticais com um cm de fresta entre elas. Vai ou racha. Fechei a porta com o arame que havia. Não queria fechar. Puxei com força. Deu. Ajeitei o arame para diminuir a fresta da porta com o marco. As outras frestas não havia jeito. Os cubículos eram de alvenaria com reboco, altura mais ou menos um e oitenta. No chão, uma chapa de fibra com as posições dos pés e um furo de 15 cm para o cocô. Não dava mais tempo. Tomei providências. Alívio. Antes de usar o banheiro ainda vi uns restos de cocô no buraco, indicando que a latrina estava quase transbordando. Minha gente, que experiência. Um odor forte, com seleta qualidade. Cocôs de diversas origens. Muitos estrangeiros no ônibus. Bem, sai dali aliviado. Finalmente vou fazer uma viagem tranquila, pensei. O ônibus continuou viagem. Meu gps indicava a altitude, que variava de 3,6 a 4,5 mil metros. A paisagem desoladora, como já disse, mas ao mesmo tempo magnífica, pela grandeza, pela majestade da cordilheira. Mais próximo de Potosi apareceram planícies com áreas inundadas e ali surgiram rebanhos de lhamas, ovelhas e gado. Quando estávamos a um quilômetro de Potosi, outra surpresa: havia barricadas no caminho e uma fila imensa nos aguardava. Paramos. Depois de uma meia hora de espera, a conselho do motorista tomamos as nossas bagagens e fomos lomba acima até o ponto de bloqueio. Sacamos algumas fotos para registrar o fato. Havíamos caminhado cerca de 800 metros. Ultrapassamos a barreira e tomamos um taxi com mais quatro pessoas para o centro. Entre essas pessoas, uma espanhola e uma austríaca. Nos largou na antiga rodoviária e dali teríamos que tomar outro taxí até o centro. Pagamos 10 bolivianos para nós dois pela corrida feita. Chegou um taxi. Negociamos preço. As gurias foram conosco para baixar custos. Na verdade, elas estavam a fim de ir caminhando, mas acabaram indo no taxi. Pagamos 15 bolivianos agora. Finalmente chegamos no hotel Santa Teresa. Deixamos as coisas no quarto 13 e fomos bater pés. De cara, um sanduiche poderoso porque não tínhamos almoçado. E eram 16h30. Comemos tão bem que achamos não haveria janta. Saimos e resolvemos entrar numa agência de viagens para ver como poderíamos sair da cidade no dia seguinte, já que ônibus são impedidos de sair por causa dos bloqueios. Concluímos que seria melhor nossa saída ser amanhã depois do meio-dia. Nos inscrevemos num tour nas minas de prata e depois na Casa de la Moneda. Tudo a ser feito amanhã de manhã. Exatamente como pretendíamos. Feito esses arranjos, fomos à rua fotografar. Tiramos fotos sensacionais que depois todos poderão ver. O centro de Potosi é todo da época colonial e surpreendentemente bonito. Passamos também pelo Mercado Central e descobrimos que é grande e sortido. Potosi vale a pena. Estou aqui no micro e a Carmen acabou de sair do banho que estava uma porcaria, pois a água não aquecia. Apenas morna. Vou reclamar.

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