segunda-feira, 30 de abril de 2012

2012-04-30 - Bolívia: lugares que passamos - clique nas datas ao lado

Manifestação em La Paz



                                          Praça Central em Oruro
                                          Trem: Oruro a Uyuni







                                          Desculpe. A lagoa abaixo é a Laguna Branca
Abaixo: Oruro a Uyuni

                                          Geisers












quinta-feira, 26 de abril de 2012

2012-04-26 - Sucre - Última Etapa


2012-04-26 – Último dia – Sucre.
Amanheceu com céu claro e com um ar frio. Não tínhamos pressa e ficamos aproveitando o hotel e estudando os prospectos sobre a cidade que colhemos na portaria. O café da manhã foi o melhor até agora. Típico dos nossos melhores hotéis. Fizemos nossas escolhas para o dia e fomos para a praça central, onde havia uma agência de turismo. Esperávamos receber dicas de como fazer aquilo que pretendíamos. Entretanto, nos deram mais um folheto turístico e nos disseram onde pegar um ônibus aberto para conhecer a cidade. Resolvemos fazer tudo por nossa conta, até porque o tal ônibus só sairia às 12h30. O primeiro já partira às 9h30. Caminhamos até o Mirador Ricoleta, passando por ruas estilo colonial. Do mirador pode-se ver boa parte da cidade, além de ser um ponto especialmente projetado para visita turística. Há um café, o Café Mirador, com guarda-sois de palha e cadeiras de preguiça. Conseguimos um lugar privilegiado e nos largamos ali saboreando um suco de abacaxi e um capuccino. Nisso chegou um grupo grande de bolivianos com bagagens para hospedar-se no hotel que fica nos arredores. Aproveitamos para conversar com um taxista e acertarmos a ida até o Parque dos Dinosauros. Em 15 minutos se chega lá. O Parque é muito interessante. Uma empresa de cimento, ao cavar a montanha onde se encontra o mineral, descobriu pegadas de animais pre-históricos. A montanha é explorada pela companhia de cimento demolindo-se fatias de mineral dispostas como se fosse um queijo fatiado. Só que as fatias estão quase na vertical. A explicação é de que ficaram nessa posição por causa das alterações das camadas tectônicas na formação dos Andes. Então temos as pegadas expostas numa parede. O lamentável é que a rocha é muito frágil e uma quantidade de pegadas, eu diria as mais importantes, desabaram num deslizamento. Mas ainda há muitas na parede. E há possibilidade de encontrar-se outras por baixo das camadas. Mas quem vai ter coragem de tirar as camadas que ali estão expostas para saber o que há por baixo? Acho que não farão isso. Aproveitando o achado, os bolivianos montaram um parque onde mostram a história da formação da terra com todas as épocas. Exibem modelos de animais pré-históricos em tamanho real e tudo sonorizado. Há um guia que explica o que ali se vê e responde perguntas. Numa parede há um modelo reduzido da parede onde estão as pegadas e nela estão desenhados os tipos de animais que deixaram as marcas. Tiramos muita fotos e quando saímos... o nosso taxista havia desaparecido. Imaginamos que ele tivesse pego uma corrida extra. Aguardamos um pouco e ele realmente apareceu. Mas disse que fora buscar água para o carro. Nos deixou num shopping onde havia um restaurante que fora recomendado no hotel. Realmente muito bom restaurante. Entrada, sopa, prato principal e sobremesa por 35 bolivianos, algo em torno de 11 reais. Dali viemos para o hotel dar uma descansada, afinal estamos em plena fase de desaquecimento, pois o principal já foi feito. Saí sozinho no meio da tarde e a Carmen ficou no micro. Surpreso, deparei-me com uma manifestação muito grande de estudantes, professores e profissionais liberais. Acho que metade da população estava alí. Foguetes, bombas, cânticos, enfim, uma manifestação ruidosa, pacífica e muito bem organizada. Perguntei o que buscavam e me disseram que querem aumento salarial ou redução de horas de trabalho. Os estudantes apoiam. Ontem o presidente ao falar à nação disse que dava graças a Deus por não ter feito faculdade e por não fazer parte da classe universitária. Acho que isso causou certa revolta no meio universitário e nos profissionais liberais. A Carmen acabou entrando em contato com o Dan via internet e ficou no hotel até eu chegar. Daí saímos para ir ao mercado público. Ali se encontra de tudo. É muito grande. Misturam-se pessoas que têm boxes para explorar e outras, aquelas velhinhas com roupas de andinos, sentadas no chão com seus produtos. Tem também restaurantes, mas achamos o ambiente com muita falta de higiene. Não nos agradou esse aspecto. Ao sair, já noite, decidimos jantar cedo. Procuramos e achamos um bom restaurante na Praça Central, e escolhemos uma mesa na sacada do primeiro andar, com vista para a multidão. Pedimos filés com os molhos da casa. Eu simplesmente pedi um que estava fotografado no menu e não me arrependi. A Carmen também pegou um filé mignon com molho de champignon e saiu satisfeita. Pagamos 134 bolivianos o que dá mais ou menos uns 45 reais. Na calçada sentimos que um ar frio rondava os caminhos da praça. Demos por encerrada a nossa excursão e rumamos para o hotel. Na manhã seguinte partiríamos. A Aerosur nos mandou mensagem confirmando o voo. Ufa! Era a nossa última preocupação. Aliás, esta viagem poderia ter duas partes distintas e emocionantes: a das atrações turísticas em si, o salar, as lagoas, as cidades históricas, etc., e os lances de viagem, as viagens aéreas, as de ônibus e as de trem. Só a de trem, de Oruro para Uyuni, saiu sem nenhum senão. Todas as demais deram motivos para preocupações, felizmente superadas. No final, valeu. E como!

quarta-feira, 25 de abril de 2012

2012-04-25 - Alcançando a última etapa: Sucre


2012-04-25. Potosi-Sucre
Ontem jantamos no Hotel. Reclamei da água fria e o pessoal do hotel reajustou o sistema de aquecimento central resolvendo o problema. Fomos para a cama cedo, pois no dia seguinte tínhamos o tour pelas minas.
Às 8h00 em ponto a guia estava na portaria do hotel. Já estávamos prontos e embarcamos numa daquelas mini-camionetes e fomos em direção ao famoso Cerro Rico. Na subida, ainda na cidade, paramos para colocar a veste de proteção: calças e casacos plásticos, capacete, botas e um lenço para proteção nasal. Em seguida paramos numa lojinha de venda de produtos para mineiros, e depois de ouvir a explanação da guia Here, tivemos de comprar material para presentear mineiros nas minas. (Here é uma mulher de aproximadamente 1,5m ou menos. Suas idéias são revolucionárias, criticando a forma como o país exporta suas matérias primas sem uma compensação razoável para o povo boliviano) O material era um pacote de folhas de coca, que eles - hábito secular - mastigam permanentemente enquanto trabalham, uma garrafa de refrigerante 2 litros e uma garrafa de água mineral de 350 ml. Compramos dois conjuntos, um para eu levar e outro para Carmen. Com isso, voltamos à camionete e retomamos a subida. Quando estávamos quase lá, encontramos um paro, ou seja, um bloqueio. Ficamos numa fila de uns 500 m. Esperamos um pouco e resolvemos ir a pé. Fomos. Chegamos na boca da mina e ali nos foram adaptadas duas lanternas no capacete e as respectivas baterias levadas à tiracolo. Iniciamos a entrada e andamos num túnel horizontal de aproximadamente 500m. Era baixo e nos obrigava a nos encolher frequentemente para passar armações, cabos, e outros dispositivos. Era escuro e a luz disponível vinha de nossas lanternas. O piso era enlameado e seguidamente com uma camada dágua. O caminho tinha trilhos por onde saiam do fundo da mina os vagões carregados de minério. De vez em quando mineiros nos passavam. Here quando os chamava, gritava "ola macróbio" e depois nos disse que esse tratamento era comum entre eles, e macróbio significava amigo ou coisa assim. Chegamos num ponto onde haviam novos túneis, mas agora descendo na vertical. Daí não passamos. Expedições turísticas mais radicais levam os turistas também por estes buracos. Encontramos vários mineiros e para alguns deles entregamos os nossos “presentes”. Tiramos algumas fotos e retornamos. Apesar da poeira, do lodo, da água, etc., a gente não suja as roupas, pois estas ficam completamente protegidas. Na saída da mina, não havia mais bloqueios. Estávamos em cima da hora para ver o Museu de la Moneda. Na verdade o nosso turno no museu iniciou 10h45 e não às 10h00 como previsto. Há um acervo muito bom nesse museu. Um guia acompanha o grupo durante toda a visita que demora uma hora e meia. Inicia com a história da exploração da prata em Potosi, os precursores dessa exploração, pinturas de artistas locais da época contando a história de Potosi, a chegada dos espanhóis, as primeiras cunhagens, amostras de moedas das diversas épocas, máquinas de cunhagem, moinhos utilizando mulas, máquinas para fundir prata e cobre, e assim por diante. Saímos satisfeitos. Nos despedimos das duas moças, espanhola e austríaca, que de certa forma haviam feito uma aproximação conosco por ocasião da chegada em Potosi, quando pegaram conosco o táxi para o centro da cidade. Descemos a rua até a agência de viagens e checamos a viabilidade de ir de ônibus para Sucre, o que se mostrou impossível por causa dos bloqueios. Restavam duas alternativas: van compartilhada, a custo de 200 bolivianos no total, e táxi expresso, para duas pessoas, também a 200 bolivianos. Tentamos o compartilhado e não deu. Nos ajudou muito a administradora da agência de viagens Amigos de Bolivia, a Evelin, mãe de uma menina muito simpática chamada Fabiana que sempre esteve na agência quando lá comparecíamos. Usamos a última alternativa. Pagamos os 200 bolivianos, o que, na verdade, significa aproximadamente 70 reais para uma viagem de 120 km. Se fôssemos de ônibus, gastaríamos algo em torno de 25 reais. A viagem foi rápida, pois a estrada tem pouco movimento e é asfaltada. O que notamos foi que a paisagem mudou. A altitude média (de Potosi para Sucre) baixou cerca de 1000 metros e as planícies já não eram desertas como na viagem do dia anterior. Quando não havia cultivo, as pradarias eram dominadas pelas mesmas plantas da zona mais alta, porém muito mais robustas, maiores, e também apareceram muitas árvores no contexto. O motorista, Juan, bastante jovem, corria bastante e era muito interessado em aprender palavras em português. Como eu vim na frente, tive de ensiná-lo um pouco. Além disso, ouvimos músicas bolivianas durante todo o trajeto e por vezes num volume um pouco alto. Chegamos a Sucre pelas 16h00. O táxi nos deixou na porta do hotel, o que não aconteceria se viéssemos de ônibus. Deixamos as coisas no quarto e saímos pelas ruas. Primeiro fomos à agência da Aerosur saber se o nosso voo estava confirmado. A primeira informação foi de que havia mudado de horário. Insistindo, soubemos que a Aerosur reduziu seus voos a partir de Sucre em direção à Santa Cruz, antes diários, agora ocorrem segundas, quartas e sextas. Como o nosso é na sexta, tudo está esquematizado para sair no horário. Mesmo assim, ficou combinado de voltarmos à agência no dia seguinte para saber se haveria novidades. Caso o voo fosse suspenso, a alternativa seria comprar uma passagem por uma das outras companhias e depois tentar reaver o valor pago à Aerosur, o que seria praticamente impossível. Sucre tem uma área central preservada pela Unesco. Vários prédios da época colonial estão intactos e despertam a atenção dos fotógrafos amadores. Realmente Sucre é um primor de cidade. Os trajes indígenas já não são tão frequentes como em Uyuni e Potosi. Os prédios e as habitações do povo nos arredores já tem outro visual. Se nos bairros de Potosi vê-se apenas casas com tijolos aparentes, aqui elas têm reboco e o visual muda. Há uma fragrante mudança na cultura dessa cidade com relação às outras anteriores. Visitamos várias igrejas, o mercado público, a praça central e paramos num café - “Las Delicias” - onde tomamos café e chocolate quente acompanhados de pão de queijo e um salgado feito com arroz. Depois caminhamos pelas ruas, descansamos na Praça Central e decidimos jantar mais cedo, pois o ar tornava-se um pouco frio e não queríamos ir tarde para o hotel. Entramos no restaurante Salamandra e comemos duas sopas quentes de verdura, acompanhadas de chá (Carmen) e de cerveja Pacena (eu). Delícia. Saímos de lá e agora estamos aqui, no quarto, pondo em dia a correspondência.

terça-feira, 24 de abril de 2012

2012-04-20 a 24 - Salar de Uyuni e região


2012-04-20 a 24 - Três dias em Uyuni e região andina.
Nossa viagem a Oruro estendeu-se até as 21h15. Tínhamos a recomendação de quatro hoteis, e decidimos, pelo adiantado da hora, nos alojar no primeiro da lista: Hostal Repostero. Modesto, mas a Carmen aprovou os aposentos, limpos e com boa roupa de cama, além de um banheiro razoável.
Mal deixamos as malas no quarto, baixamos para procurar um lugar para jantar. A senhora da recepção nos recomendou um bem próximo ao hotel. Ambiente agradável, com muitos casais, filhos, e crianças pequenas. Nosso cardápio foi dois bons bifes, coisa que estávamos precisando. Assim como é difícil reconhecer um japonês no meio de um grupo de japoneses, pode-se dizer também que é difícil reconhecer um boliviano no meio de vários bolivianos. Os descendentes dos indígenas, claro. Assim, a gente vê um jovem na rua e parece o rapaz que atende no hotel. Pois aconteceu que, ao encerrarmos a nossa janta, quando queríamos receber a nossa conta, fazendo um sinal de escrever com a mão, acenei para um senhor que passava segurando uma pequena folha de papel. Roupa escura, idêntica a do pessoal do restaurante, parecia um dos garçons. Ledo engano. Esse senhor já havia passado outras vezes para lá e para cá, mas pelo jeito não tinha nada a ver com o atendimento do restaurante. Me deu uma olhada e seguiu seu caminho. Daqui a pouco chegou o nosso garçom verdadeiro. Voltamos ao hotel e fomos direto para a cama. Antes liguei a TV e soube que o Inter classificara-se na Libertadores às custas do Santos. Não estou conseguindo acompanhar os jogos de tênis de Monte Carlo, apenas soube alguns resultados de vitórias de Nadal, Songa, e Jokovik. Como estávamos nos sentindo bem, não tomamos nenhum comprimido para evitar o soroche. Resultado: acordei pelas 3 da manhã, novamente com dor de cabeça. Levantei e tomei meio comprimido de parafetanol, o que bastou. Acordamos pela manhã sem nenhum compromisso turístico. Oruro é uma cidade pequena e o centrinho muito movimentado. As ruas são estreitas e repletas de casas velhas. Mas parece que todo mundo costuma sair às ruas. Muita gente circulando. Farmácias existem às dezenas, cada uma com aparência pior do que a outra. O que continua me impressionando é a forma de comércio que a população utiliza. Milhares de feirantes espalham-se pelas ruas, sobre as calçadas, nas pequenas aberturas das construções, oferecendo seus produtos duma forma passiva, sem agressividade aos passantes, diferentemente do que acontece no Brasil. A gente caminhando nas calçadas encontra vendedores de tudo que é tipo de produto, desde eletrônicos à sementes, passando por roupas, comida, móveis, panelas, etc. O Mercado Público de Oruro é uma festa. Pouco espaço para caminhar, produtos amontoados em todos os cantos. Há muito mais vendedores do que compradores. Eu e a Carmen ficamos imaginando quem compra tudo o que é oferecido. Milhares de pontos de venda dos mesmos produtos. É impressionante. Comprei numa farmácia oito comprimidos contra soroche, pois resolvemos que vamos nos prevenir antes de sofrermos os efeitos das alturas. Ambos esperamos conseguir uma adaptação à altura já nos próximos dias, mas durante os três dias no Salar vamos estar com recursos à mão. Oruro fica uns 3700 m acima do nível do mar e com nossas caminhadas pelo centrinho cansamos bastante. Voltamos ao hotel e aproveitamos que tinha internet para por em dia as correspondências e postar fotos e textos. Almoçamos no próprio hotel e depois fomos puxando nossas maletas até a estação ferroviária, que fica a quatro quadras do hotel. Compramos uns salgadinhos e embarcamos. No horário, o trem partiu. Estamos num vagão executivo, com poltronas melhores que qualquer ônibus ou avião brasileiros. Logo no vagão atrás há um restaurante, para o qual já fizemos nossos planos de ter aquele jantar de viagem turismo. Mas não aguentamos e já estivemos por lá tomando um pisco. Ao nosso redor, gente de todo o mundo. Jovens, de meia-idade e adultos. Uma mulher perdeu a carteira com as passagens antes da partida e foi um Deus nos acuda dentro do vagão. Reviramos tudo e não achamos a tal da “carteirita negra”. Não sei como ela vai resolver a questão. A paisagem que se vê é algo sensacional. Logo na primeira meia hora, a estrada de ferro passa entre imensos banhados rasos, semelhantes às nossas lagoas costeiras no RS. Nossas câmeras não pararam de bater fotos de bandos de flamingos que saiam apavorados com a aproximação do trem. Na primeira revisão notamos que muitas fotos saíram tremidas Uma pena. .Depois passamos por criações de lhamas e de ovelhas. As imensas áreas que se estendem tanto para leste como para oeste tem aspecto de pouco férteis, o terreno quase branco com vegetação rasteira e poucas plantações. Nota-se o vestígio claro da presença salina denunciado pela brancura depositada nos campos. Nessas áreas espalham-se casebres de barro com telhados de palha e muito raro vê-se agricultores trabalhando. Nos pequenos vilarejos pode-se ver crianças brincando ou também em grupos saindo de escolas. Depois de duas horas de trem passamos por uma cidadezinha. Como sempre, todas as paredes sem qualquer reboco e muitas feitas com tijolos grandes, de barro aparentemente feitos à mão. A placa dizia Chalapata. .O trem diminuiu a marcha e até parecia que pretendia parar, mas não, seguiu adiante. No horizonte, à oeste, nuvens negras indicam chance de chuvas. Tomara que não inventem de dirigir-se ao Salar. O dia agoniza. O Sol, já não se vê. Apenas uma faixa estreita alaranjada dá sinais de que ainda não ofuscou-se de todo. As montanhas ao longe são todas esverdeadas, num tom fraco, e provavelmente revestidas desse capim ralo que também abunda na planície. Uma estrada asfaltada ladeia a ferrovia desde Oruro. De longe parece uma boa estrada pela velocidade imprimida pelos veículos que trafegam. E há um bom movimento de todo tipo de veículo. A Carmen está aqui ao meu lado na janela, mas agora com os olhos num filme que está sendo exibido no vagão numa tela 32 polegadas. De vez em quando saca a câmera e tira umas fotos. O ocaso está mostrando fantásticas imagens, mutantes, imprevisíveis. Há pouco um funcionário entregou a todos os passageiros tickets para o sanduiche e a Coca-cola que serão servidos de cortesia.
Intervalo.

2012-04-19/20 – Rumo ao Salar de Uyuni.

O sanduiche servido no trem foi excelente. Pãozinho macio e coca-cola. Depois, já noite, a distração foi ficar vendo filme. Aproveitei para jogar uns spider-solitaire. Mas logo cansei. Lá pelas 20h30 fomos jantar. Novamente optamos por bifes mal passados. Não erramos. Uma delícia. Não sei porque a gente anda com vontade de comer carne. Pontualmente chegamos em Uyuni às 22h20. Aí tivemos de esperar pelas maletas que haviam sido despachadas. Mas o serviço foi rápido. O problema era que estava frio e qualquer minuto de espera era longo. Pegamos as malas e... e agora? Sabíamos que Uyuni é pequena, mas não tínhamos a menor ideia como chegar ao hotel. Perguntamos e ficamos sabendo que o hotel Tambo-aymara ficava a cinco quadras da ferroviária. Ora, pegamos as nossas maletas e saímos caminhando pelas ruas e achamos fácil. Havia gente ainda andando pelas ruas quase vazias. Um hotel muito agradável, coisa que esperávamos, pois já o tínhamos analisado pela internet. Novo, limpo, bonito. Foi uma noite gostosa, bem dormida. De manhã cedo, pelas 8h30, saímos em direção à rodoviária. Era preciso comprar as passagens para Potosi. Incrível o preço das passagens. Uma distância semelhante a de Florianópolis a Curitiba, cinco horas de viagem, e o preço das duas passagens foi de 60 bolivianos. Ou seja, dez reais aproximadamente para cada um. Pelo que vimos, os ônibus parecem ser da mesma qualidade que os nossos. Depois fomos procurar a empresa responsável pelo tour em si. Checamos tudo e voltamos ao hotel. Claro que durante esses percursos muitas fotos foram tiradas. Às 10h40 chegou a Van já com os nossos companheiros de viagem. O guia-motorista chama-se Grober, 25. Viajam conosco Tom e Yollanda, 32 e 29, canadenses de Toronto, e Tobias e Nicolas, 25 , alemães de Munich. O primeiro destino foi o Salar. Fica a 25 km de Uyuni. A Carmen ocupou o lugar do acompanhante do motorista, eu logo atrás dela, os dois canadenses ao meu lado e os alemães atrás. Adianto que nos dias seguintes fizemos rodízio de lugares, tomando-se dois a dois, pois estávamos em três grupos de dois. Em 20 minutos estávamos lá. De início passa-se por um pequeno povoado ocupado pelos trabalhadores da extração e processamento do sal. Em seguida entra-se na área de coleta do sal. Os trabalhadores, com uso de pás, retiram o sal da superfície do salar amontoando-o em montes de cerca de um metro de altura. Então a gente vê centenas daqueles cones acumulados na área do salar. Depois, passam caminhões recolhendo esses montes. A retirada – eu diria raspagem - se dá em camadas de aproximadamente dez centímetros e o sal é deixado nesses montes para secar durante uma semana e ficar mais leve. A espessura do salar é de sete metros aproximadamente e sua superfície é 12 mil quilômetros quadrados. A singularidade do salar é o que mais impressiona. Uma vasta superfície que se perde no horizonte, apenas limitada pelas montanhas ao longe, totalmente branca, ofuscante para a vista mas de impressionante beleza. Tiramos várias fotos tentando fazer o que todo turista faz: brincar com ilusão de ótica. Visitamos também um hotel de sal que existe nessa área inicial do salar. Havia uma festa com um monte de jovens que dançavam ao som de umas caixas sonoras ao lado do hotel. Parecia uma festa de hippies. Entramos. Um ambiente amarelado, camas espalhadas pela sala grande de entrada, gente deitada nela, outros em roda de uma mesa tomando alguma coisa. Havia um corredor com salas laterais. Um cheiro de falta de banho bem saturado. Batemos umas fotos e saímos dali. Voltamos às fotos e depois almoçamos. O almoço na tour é feito sobre a tampa trazeira da van, que abre na horizontal em forma de mesa. Nesse primeiro dia, houve frango ensopado, arroz, salada e Coca-Cola. Bananas de sobremesa. Tudo contadinho. Um para cada um. Depois do almoço retornamos e passamos por Uyuni sem parar tomando o rumo de San Cristoban, uma pequeno poblito bem longe ao sul. Como sempre, a viagem é cheia de atrativos pela beleza das paisagens desérticas, montanhas coloridas e céu impecavelmente azul. Passamos por raros povoados todos com suas casas muito rústicas, feitas com tijolos de barro cinza, maiores do que os nossos, quase do tamanho dos tijolos pré-moldados. Coberturas de telhas de zinco seguras por pedras são as mais comuns. Muita simplicidade. Em San Cristoban paramos para as necessidades e para ver o que vendem no mercado central. Há bastante produtos, mas o mercado é bem pequeno. Compramos 2 maças e 1 romã, que aqui chama-se granada, aliás, nome muito sugestivo. A estrada não tem pavimentação mas é boa. Depois de San Cristoban fomos até o local de nosso primeiro acampamento localizado num poblito denominado Villa Mar. Então conhecemos a nossa pousada. Foi engraçado ver a cara de todos os turistas, inclusive nós, deparando com aquele quarto grande com seis camas. Seria o nosso local de pouso naquela noite. A habitação tinha dois pisos e o nosso quarto ficava no de cima.
Era tardinha e o sol se punha. O frio entrava rachando. Não havia vento e isso facilitava as coisas. Sai para tirar umas fotos e a Carmen veio atrás, mas antes dela me alcançar, eu já estava regressando, sentindo que o frio penetrava nos casacos. Em seguida foi servido um chá quente com bolachas a título de boas-vindas. Nem sei como consumimos o tempo até o jantar. De início, veio uma sopa quente – que coisa boa uma sopa quente num dia gelado – de quinua com batatas e verduras, depois batatas assadas com um belo corte de lhama, eu diria aquele pedaço T equivalente com filé mignon e contra filé, assado. Delícia. Daí, chegou a hora do banho. Só que a hospedagem tem um banheiro que é assim: uma sala com dois boxes de chuveiros e dois boxes com vaso. Unisex. As portas não tem trincos. E além disso, um frio do diabo. Resultado: cinco não tomaram banho, foram direto dormir, entre eles, eu. Quem foi tomar banho foi a dona Carmen. Depois ela esnobou dizendo que o chuveiro era excelente, com água quente em tal abundância que era preciso incluir a água fria. O resultado de tudo foi que no dia seguinte sentia-se de vez em quando um cheiro de budum dentro da nossa van. E não era de mim. Havia vários suspeitos. Quanto à noite, é preciso dizer que as cobertas fornecidas são excelentes, pesadas, resolvendo qualquer problema de frio. Nós nem usamos os sacos de dormir que nos recomendaram. De noite me entupiu o nariz e a minha garganta estava seca assim como a boca toda. Tive de levantar e ir lá no banheiro, que fica no primeiro piso, assoar o nariz. Só que o chão de tábuas do nosso quarto range adoidado. Não adiantou os meus cuidados. Vi que muita gente se remexeu. O despertar era as 6h00. Só que deu 6h15 e todo mundo no maior ronco. Levantei e comecei a fazer barulho. A Carmen me ajudou. Às 6h50 estávamos no refeitório para o café quando o combinado era às 6h30. Mas tudo Ok. Saimos rumo à Lagoa Colorada. A estrada de terra muito estreita, sem movimento, maravilhosa em termos de visual. A toda hora bandos de vicunhas, de lhamas e raramente ovelhas. Notei que as vicunha são muito mais assustadas do que as lhamas. E uma coisa interessante é que as lhamas são marcadas com um laço nas duas orelhas. Indicam a quem pertencem. Passamos por riachos em que eu não me aventuraria com o Stilo. Em alguns, a água ainda brincava com camadas de gelo que soltavam-se com nossa investida. A relva ao lado da estrada mostrava-se manchada de branco em vários pontos. Dificilmente vê-se cercas. As planícies que cercam a estrada até as montanhas são desérticas e muito planas. Areia e pedras, como o leito de uma estrada de pedras. A vegetação é rala, baixa, e dominada por uma planta denominada Tola, que é um arbusto pequeno, cerca de meio metro se tanto e é utilizada como lenha. Subimos uma serra e começamos a sentir a diminuição da temperatura. Os riachos apresentavam-se parcialmente congelados e via-se a estrada subindo as montanhas à nossa frente. Chegamos no nível 4 mil metros. Numa curva o Grober estancou a van. Queria nos mostrar dois coelhos postados nas pedras da estrada, a uns 10 metros à frente. São os chamados Viscachas. E os dois animais ficaram ali nos fitando e fazendo pose para os fotógrafos. Mais um pouco e chegamos à nossa nova pousada. Esta tinha apenas um piso e novamente estávamos em frente a um quarto com seis camas. Deixamos as nossas bagagens e rumamos para a Lagoa Colorada. Esta lagoa está num parque nacional denominado Reserva Nacional de Fauna Andina Eduardo Avaroa. Paga-se 150 bolivianos por pessoa para entrar no parque. Em pouco tempo estávamos no local escolhido por Grober para apreciarmos a Lagoa Colorada. Uma lagoa com profundidade de 40 cm e com uma cor alaranjada para vermelho acentuada. Realmente essa lagoa é algo de fantástico. Quando não há vento, como era o caso, fica um espelho, refletindo as montanhas próximas. Centenas de flamingos, principalmente o Andino, que é o tipo maior, chegando a 1,20 m, segundo o nosso guia. Há também o Chileno, um pouco menor e um outro, cujo nome não me recordo, mas parece ser James, menor ainda. Tiramos várias fotos e depois rumamos para o próximo ponto. No trajeto cenas espetaculares das montanhas nevadas e também das outras, cujo colorido prendia permanentemente nossa atenção. Passamos por vários vulcões, todos inativos, mas majestosos, com suas coroas nevadas. O céu estava limpo, sem nenhuma núvem. Adiante, passamos por um local onde o guia parou a van e nos apresentou as montanhas denominadas de Sa;lvador Dali. O espanhol pintou um quadro cujas imagens assemelham-se bastante com aquelas paisagens andinas embora nunca tenha estado lá. Em vários lugares pedíamos para o guia parar a van para registrarmos o que víamos. Andamos bastante e chegamos à Lagoa Verde, o ponto mais longo do tour. É outra lagoa que tem uma beleza fora do comum. Bem, se não fosse assim, não vinha gente de todo o mundo apreciá-la. Uma cor verde claro, viva, e cercada de montanhas. Nesse local almoçamos. Como sempre, nossa mesa era a porta traseira da van. O cardápio era frango à milanesa, muito gostoso, frio é claro, acompanhado de arroz com verduras e salada. Bebida: Coca. Sobremesa: bergamota. Ficamos bastante tempo por lá, e antes de sair, um ventinho frio se fez presente. A temperatura devia estar em torno de uns 6 graus. Saimos de lá e fomos para as águas termais. Por baixo eu estava com um calção para tomar banho e a Carmen havia levado o seu maiô. Quando chegamos o tanque de água termal estava lotado, cheio de gente. Desistimos. Um tanque pequeno, de uns oito metros de diâmetro, cheio de turistas, imaginem a qualidade da água, mesmo que seja renovada. Nossos companheiros de viagem todos foram. Depois sofreram com o vento frio que se fazia presente. Os alemães trocaram de roupa no meio da estrada. Dali rumamos aos geisers. Foi o ponto mais elevado da viagem. Meu gps indicava 4950 m. O guia nos deixou no local e subiu com a van até o fim dos vapores, a uns 500m acima. Os geisers bolivianos têm uns 20 poços abertos, uns grandes outros pequenos, outros apenas um furo na terra, todos em atividade. Filmei alguns deles onde a lama estava agitada, parecendo um doce de leite fervendo e soltando bolhas na panela. A cor é cinzenta clara. Depois de apreciarmos o fenônemo, subimos até a van e chegamos bufando, pois nessa altitude a gente perde a resistência. Ali terminou o nosso dia. Embarcamos e rumamos para a pousada.
A janta teve macarronada. Com a fome, qualquer comida entraria perfeita, ainda mais no frio. Mas a macarronada, simples, com um molho de tomate e queijo ralado, estava ótima. A empresa de turismo ofereceu uma garrafa de vinho. Observação: esta pousada não tem chuveiros. Por isso, quem tomou banho nas águas termais, tomou banho, quem não tomou …. já viu.
Ali tinha energia elétrica das 19 as 21 horas. Só que, neste dia, durou das 18h30 até as 20h30. Ou seja, depois das 20h30 todo mundo estava convidado a dormir. E assim foi. Confesso que foi a melhor noite minha em toda a viagem até a data. Creio que me deitei pelas 21h e acordei às 7h00 do dia seguinte. Usamos todas as cobertas. Pesavam p'ra caramba. De manhã a temperatura estava próxima de zero. Tomamos nosso café, que era água quente com pó de café ou chocolate. Comemos o nosso pão com manteiga ou com doce de leite, e rumamos para ver a árvore de pedra. Os nossos jovens alemães nos ofereceram os lugares a que teriam direito nesse dia. Assim, permanecemos no banco intermediário e eles foram para a galera. A árvore de pedra é uma das formações semelhantes a que temos em Vila Velha, no Paraná. Só que aqui formações desse tipo existem às dezenas. Tiramos várias fotos e continuamos. Chegamos ao Villa Rochas. Primeira providência minha foi achar um banheiro ao ar livre, isto é, um cantinho bem escondido e longe de tudo. Ainda bem que ali foi fácil consegui-lo. Eu estava meio desarranjado desde o dia anterior e tinha que tomar uma providência nos locais possíveis. Deixei a minha marca. Ninguém vai notá-la, garanto. Villa Rochas tem formação rochosa semelhante às nossas de Vila Velha, Paraná, só que são montanhas que se estendem a perder de vista. O local onde paramos é um ponto especial, com várias formações menores, mas muito interessantes. Nesse local almoçamos. O cardápio oferecia arroz, atum, e salada. E Coca. Dali nos embrenhamos no altiplano, onde pode-se escolher o caminho sobre a planície de pedra e areia. É praticamente uma estrada de uns mil metros de largura. Só se vê veículos 4x4. Não vimos automóveis nessas paragens. Depois de muito tempo a planície foi estreitando e estávamos com a van num caminho estreito, de carroça diríamos, cheio de buracos e pedras. Sofremos um bocado com solavancos. Encontramos um lago chamado Lago Onda onde havia construções de trinta anos atrás, de tijolos de barro cinza, abandonadas. Uma delas era uma fazenda de criação de lhamas cujos filhos dos donos resolveram sair ao mundo ao invés de ficar criando os bichos. A outra, uma pousada que queria aproveitar a beleza do lugar, mas depois deparou-se com problema de abastecimento de água e outros e o dono desistiu. Uma pena, pois o lugar é de uma beleza fora de série. Depois dessa parada, continuamos encontrando pequenas lagoas e muitas lhamas, vicunhas e até duas perdizes. Chegamos ao entroncamento com a estrada que leva ao Chile e tivemos uma bela vista do vulcão Nicancabur. Andamos e andamos até chegar na cidadezinha em que havíamos parado na ida: San Cristobal. Ficamos meia hora. A Carmen aproveitou para tirar foto da igreja local e eu fiquei comendo a romã que comprara dois dias antes neste mesmo lugar. Dali novamente andamos e andamos até chegar no cemitério de trens. Contei umas 23 locomotivas velhas enferrujadas e semi-destruídas, mas deveria ter outro tanto de vagões de carga de carvão. Tiramos algumas fotos e estávamos de volta a Uyuni, encerrando o tour.
Tentamos arrumar uma ida relâmpago até o salar para ver o por do sol, mas já era tarde e nos recomendaram na agência a desistir, por causa do horário. Não daria tempo.
No hotel tomamos um banho daqueles de lavar até a alma. Em seguida, pegamos umas referências no hotel e fomos jantar no Loco. É um especialista em carne de lhama. Pedimos dois pratos idênticos de lhama ao molho de queijo rochefort, o que estava uma delícia. Agora, eu estou aqui digitando e a Carmen num sono reparador. São quase 21h do dia 24.
Continua em Potosi.
Potosi. Em Uyuni levantamos pelas 7h e tivemos o nosso breakfast. Depois arrumamos as coisas e fomos para a rodoviária. A rodoviária é como a nossa antiga de Floripa, só que não é triangular e sim numa rua comum. Ao chegar, nos apresentamos e a surpresa: nossos tickets estavam com data de 24, mas a secretária esqueceu de registrar nos nossos nomes. Resultado: não havia lugar. Correram para uma empresa vizinha que tinha lugares e nos arrumaram assentos. Mas ao atravessarmos a rua vimos que os ônibus de tal empresa eram pequenos e velhos. Voltamos à agência Imperador e reclamamos dizendo que não aceitávamos a troca e que eles transferissem alguém que tivesse comprado a passagem depois de nós para aquela outra empresa. A mulher concordou mas nos colocou lá no fundo do ônibus. Bom, pelo menos fomos num ônibus melhor. Eu estava com uma diarréia terrível e com medo de precisar parar no caminho. O ônibus saiu no horário. A primeira hora da viagem foi péssima. Havia obras e nosso ônibus andava sempre pelos desvios, poeirentos e esburacados. Finalmente veio o asfalto. Esta viagem foi a viagem mais alta que já fizemos, vencendo aquela feita no Peru. Andamos sempre próximos dos 4 mil metros. Foram quatro horas de montanhas inóspitas, onde apenas os capinzinhos comuns já mencionados crescem. Os casebres que se vê são paupérrimos e muitas vezes abandonados. A Carmen tirou centenas de fotos que serão filtradas mais tarde. Fui concentrado durante as primeiras duas horas, quando houve uma parada para lanche. Queria sair logo, mas todo mundo se levantou e fiquei preso no fundo do ônibus. Calma. Vai dar tempo. Devagar. Quando consegui sair não encontrei nenhuma placa de “banos”. Fui a um bar muito pobre e perguntei. O moço me disse que era ali do lado. Fui até lá rápido. As gurias européias, umas louras de um e oitenta para mais estavam lá procurando também por banos. Havia umas quatro. Eu e a Carmen pensamos na Sissa vendo-as com suas enormes mochilas às costas. Como elas estavam meio moscas-tontas, me meti no meio e abri caminho em direção a um dos dois cubículos. Entrei. A porta era de tábuas verticais com um cm de fresta entre elas. Vai ou racha. Fechei a porta com o arame que havia. Não queria fechar. Puxei com força. Deu. Ajeitei o arame para diminuir a fresta da porta com o marco. As outras frestas não havia jeito. Os cubículos eram de alvenaria com reboco, altura mais ou menos um e oitenta. No chão, uma chapa de fibra com as posições dos pés e um furo de 15 cm para o cocô. Não dava mais tempo. Tomei providências. Alívio. Antes de usar o banheiro ainda vi uns restos de cocô no buraco, indicando que a latrina estava quase transbordando. Minha gente, que experiência. Um odor forte, com seleta qualidade. Cocôs de diversas origens. Muitos estrangeiros no ônibus. Bem, sai dali aliviado. Finalmente vou fazer uma viagem tranquila, pensei. O ônibus continuou viagem. Meu gps indicava a altitude, que variava de 3,6 a 4,5 mil metros. A paisagem desoladora, como já disse, mas ao mesmo tempo magnífica, pela grandeza, pela majestade da cordilheira. Mais próximo de Potosi apareceram planícies com áreas inundadas e ali surgiram rebanhos de lhamas, ovelhas e gado. Quando estávamos a um quilômetro de Potosi, outra surpresa: havia barricadas no caminho e uma fila imensa nos aguardava. Paramos. Depois de uma meia hora de espera, a conselho do motorista tomamos as nossas bagagens e fomos lomba acima até o ponto de bloqueio. Sacamos algumas fotos para registrar o fato. Havíamos caminhado cerca de 800 metros. Ultrapassamos a barreira e tomamos um taxi com mais quatro pessoas para o centro. Entre essas pessoas, uma espanhola e uma austríaca. Nos largou na antiga rodoviária e dali teríamos que tomar outro taxí até o centro. Pagamos 10 bolivianos para nós dois pela corrida feita. Chegou um taxi. Negociamos preço. As gurias foram conosco para baixar custos. Na verdade, elas estavam a fim de ir caminhando, mas acabaram indo no taxi. Pagamos 15 bolivianos agora. Finalmente chegamos no hotel Santa Teresa. Deixamos as coisas no quarto 13 e fomos bater pés. De cara, um sanduiche poderoso porque não tínhamos almoçado. E eram 16h30. Comemos tão bem que achamos não haveria janta. Saimos e resolvemos entrar numa agência de viagens para ver como poderíamos sair da cidade no dia seguinte, já que ônibus são impedidos de sair por causa dos bloqueios. Concluímos que seria melhor nossa saída ser amanhã depois do meio-dia. Nos inscrevemos num tour nas minas de prata e depois na Casa de la Moneda. Tudo a ser feito amanhã de manhã. Exatamente como pretendíamos. Feito esses arranjos, fomos à rua fotografar. Tiramos fotos sensacionais que depois todos poderão ver. O centro de Potosi é todo da época colonial e surpreendentemente bonito. Passamos também pelo Mercado Central e descobrimos que é grande e sortido. Potosi vale a pena. Estou aqui no micro e a Carmen acabou de sair do banho que estava uma porcaria, pois a água não aquecia. Apenas morna. Vou reclamar.

sexta-feira, 20 de abril de 2012


2012-Abril-18/19. Até a vista, La Paz!

Desliguei o micro depois de abrir e tratar os e-mails e os spams. Já era três da tarde. Fui ver como estava o sono da Carmen. Só de abrir a nossa porta do quarto, que range uma barbaridade, ela acordou. - Que horas são? Três. E se quisermos ver alguma coisa temos de ir logo, pois as cinco e meia o sol desaparece. Virou pro lado e ferrou novamente. Fui ao banheiro. Porta abre, porta fecha, e ela acorda novamente. - Tenho de levantar! Acho que sim. E sentou-se.
Saímos sem muitos agasalhos. Câmeras à mão, pés no chão! Andamos por várias ruazitas do centro, entramos na igreja São Francisco e já na porta nos atacaram informando que não poderíamos sacar nenhum tipo de fotos. Igreja enorme, escura como todas as outras que visitamos na Bolívia. Muitas imagens e adornos folhados a ouro. Voltamos para a calle e subimos e descemos, subimos e descemos, sempre despacito, para evitar o cansaço que, como todos sabem, nessas alturas vem com uma facilidade grande. Paramos em frente à praça da Catedral. Havia muita gente, crianças, mulheres com seus trajes típicos, e muitas pombas. Vários grupos de pombas buscavam farelos lançados por adultos e crianças. Entramos na catedral. Ficamos pouco. Percorremos outras ruas mais na parte de cima em relação ao nosso hotel e depois retornamos. Já era início da noite. Chegamos e entramos numa agência de turismo que está instalada no hall de entrada do hostal e ali iniciamos uma boa conversação com as 4 moças e Alex, o chefe, sobre as possibilidades turísticas para nós no dia seguinte, haja vista nossa experiência de hoje, quando conhecemos praticamente tudo no centro da cidade. City tour não nos interessava porque já havíamos visto o que queríamos e estávamos interessados em passeios nas cercanias de La Paz. No final acertamos um tour exclusivo para três pontos turísticos: Vale de la Luna, Vale Las Animas, e Canion La Palca. Sairíamos no dia seguinte às 7h30 e voltaríamos às 13h00 tendo ainda uma tarde para aproveitar o centrinho. Pagamos ali mesmo e fomos jantar na pizzaria do hall do próprio hostal. Tinha wireless e desembolsamos o micrinho e botamos mãos à obra. Quando abri meu e-mail, havia uma mensagem da Kanoo Tours, que nos organizou o tour no salar. Surpresa: está programada uma barricada na estrada que vai de La Paz a Oruro na sexta-feira e as rotas de ônibus estarão bloqueadas. Putz! E agora? No mesmo e-mail a moça responsável nos aconselhava a viajar a Oruro no dia anterior, ou seja, na quinta-feira, para garantir a viagem. Teríamos de cancelar nossa estadia em La Paz e arrumar hospedagem em Oruro. Primeiro pensamento foi cancelar o tour do dia seguinte e dedicar-se a resolver o problema. Fui até a agência de turismo e conversei com eles a respeito e fiquei mais tranquilo, pois me disseram que é muito fácil conseguir passagens para Oruro e mais fácil ainda conseguir hospedagem lá. Assim, mantivemos o tour do dia seguinte e escrevi para a moça responsável pela tour em Uyuni dizendo a ela que poderia escolher entre uma das duas soluções: ou ir quinta-feira à tarde para Oruro ou ir na sexta-feira de madrugada, se houvesse ônibus. Dei por e-mail o nome da empresa com a qual faríamos o tour nos arredores de La Paz, caso necessitasse um contato de emergência. No final das contas ela reservou passagens para quinta-feira à tarde, e nesse momento estou escrevendo dentro do ônibus, e são umas seis e meia da tarde. Ficamos sabendo disso no meio da tour, via celular do motorista. Bem, mas vamos voltar à noite de quarta-feira. Depois dessa notícia das barricadas e das conversas com o pessoal do tour do dia seguinte, fomos dormir. O soroche não se manifestava, a temperatura estava não muito fria, tomamos um bom banho quente – aliás, deve-se dizer que a água-quente desse hostal é muito boa -, e nos deitamos. Acordei às três da matina com dor de cabeça: o soroche manifestando-se. Com meus movimentos e acendidas de luz a Carmen acordou. Felizmente não estava com tonturas, mas para dormir assim não dava. Tomei meio comprimido de paracetanol esperei um pouco e fui deitar. Deu resultado. Às 6h30 o despertador tocou. Hora de arrumar tudo. Deveríamos deixar as malas na portaria, pois se devéssemos sair para Oruro na quinta-feira não permaneceríamos no hostal nessa noite. Tomamos nosso café, deixamos as malas e Moises e a van estavam nos esperando. Moises é um descentende de aymaras, fala aymara e também um espanhol muito fácil para nós. Dissemos a ele que conhecemos apenas o centro da cidade e que não havíamos visitado nenhum mirador. Ele se ofereceu para fazer essa parte do city tour dentro do nosso programa. De imediato nos levou ao alto da cidade, numa pracinha dum bairro mais tranquilo e residencial, donde se tinha uma vista fantástica da cidade. Dali nos deu várias explicações sobre o desenvolvimento de La Paz, e a forma de vida da população. La Paz fica entre montanhas, mas não são montanhas rochosas, são formadas de arenito e suas escarpas são suscetíveis de deslizamento. Desta forma, as construções estao sempre ameaçadas. A grande maioria das casas são de tijolos à vista, mas tijolos das próprias paredes, sem reboco. As moradias sobem montanhas até perder-se de vista. Depois, saimos para os pontos do programa, passando antes pela casa residencial oficial do presidente da república, no caso Evo Morales. Chegamos ao Vale de La Luna, onde se seguem trilhas no meio das formações rochosas. Terreno arenito e argila desgastado pela água mostra formações semelhantes àquelas que conseguimos com nossos castelos de areia lá na Praia dos Ingleses, só que em tamanho gigante, tipo assim de uns 20 a 25 metros de altura. Enquanto se caminha nas trilhas aparecem ao lado buracos que vão até os riachos subterrâneos que por ali passam. São águas que vem por baixo desde o lago Titicaca como também, e na sua maioria, do degelo da neve. Na cidade de La Paz, olhando-se para as montanhas e vendo a quantidade de casas lá em cima, amontoadas e praticamente ligadas umas às outras, perguntava ao Moises: como chega a água até lá em cima? E a resposta: a água vem ainda de cima, das montanhas. A conclusão era que, o cume da montanha que estávamos vendo, era o cume do alti-plano, que por sua vez, recebe agua das geleiras que estão mais altas e não podem ser vistas donde estávamos. Ficamos mais de uma hora no Vale de La Luna e acabamos comprando alguma coisa dos locais. A Carmen um cachecol e eu uma flauta. O cara queria me vender uma flauta de madeira de lei, mas acabei comprando uma de bambu, bem mais em conta. Mas valeu a ajuda. Dali rumamos para o Vale de las Animas (almas). Trata-se de paredões de mais de cem metros, desgastados pela chuva com formações espetaculares. Em continuação, e por uma estrada terrível, estreita, em descida para um canion, esburacada, iamos numa velocidade de uns 20 km por hora, no máximo.
Chegamos até lá em baixo e fomos caminhar no leito do rio, na realidade um reles riacho num vale grandioso, com paredões notáveis. Caminhamos a metade do programado e resolvemos voltar, pois se via que nada de novo encontraríamos e já estávamos bastante cansados. Dalí retoramos. Em La Paz também há rodízios de carros dentro da cidade, e a nossa van não poderia voltar até o hostal. Mas a empresa nos fretou um taxi para tal. No hotel, agora quase 3h00 da tarde, confirmamos nossa partida para logo mais, às 17h00 e fomos comer uma pizza. Acertamos a conta do hostal e pegamos o taxi até o terminal rodoviário. Fomos ao guichê da empresa transportadora e o atendente nos disse que retornássemos às 16h30. Compramos algumas coisas para comer durante a viagem, telefonamos para a agencia de viagem do salar para confirmar últimos detalhes e retornamos. O atendente nos levou ao box de outra companhia que nos alojou num ônibus leito, sem acréscimos. Legal. Saimos do centro e paramos na parte alta da cidade - El Alto, como eles chamam - onde há uma rodoviária tipo aquela do Estreito, onde os ônibus param para entrada de novos passageiros. Alí a gente presenciou cenas curiosas dignas de serem anotadas. A primeira é que há um movimento intenso de pessoas entrando e saindo do ônibus para vender de tudo, tipo jornais, bebidas, salgadinhos, roupas, produtos para saúde, etc.. Entram mulheres com seus filhos nas costas, ou com trouxas imensas que mal passam nos corredores. E incrível, o ônibus sai andando devagar como que para anunciar que está saindo mesmo, e continua o movimento de entra e sai de pessoas, passageiros e vendedores. O ônibus em que viajamos tem dois andares, sendo o de baixo o que tem os leitos e os de cima os comuns. Estamos bem em frente da porta e vemos o entra e sai direto. Bem, mas depois que partimos, a viagem está andando normal. Vamos ver como será a chegada em Oruro.

Vista de La Paz

Valle de La Luna

Valle de Las Animas
Até mais.  

quarta-feira, 18 de abril de 2012

2012-Abril-17/18 Um dia para rever Santa Cruz … à força – continuação. Alo! La Paz!

Beleza! Às 18h adentramos na sala de espera. Em seguida o aviso para os passageiros da Aerosul - dirigir-se ao térreo, Portão 1, para embarque. Descemos. Lá embaixo não havia ar condicionado. Apenas uns restinhos de ar fresco que desciam as escadas com algumas pessoas. O avião sairia às 19h10 e o embarque prestes a acontecer. Passados quinze minutos o aviso: Senhores passageiros da Aerosur, por motivos de conexões, o voo para La Paz sairá às 20h00. Inquietante notícia. Dali tudo poderia acontecer, inclusive o voo ser suspenso e a gente ter de voltar à cidade para se hospedar. Saímos da fornalha e fomos para o piso superior. Melhor. E aí acha coisa para fazer. A Carmen foi micrar e eu abri novamente o Hunger Games. Mas o meu sono atrazado se manifestava e de vez em quando me via mergulhando no livro, literalmente. Acabei o capítulo e saí, fui até a Carmen que estava numa mesinha da lanchonete. Dali dava para ver um jogo da Libertadores na TV, em que o uruguaio Defensor vencia o argentino Velez por dois a zero fora de casa. Não sei como terminou. E o chamado da Aerosur não vinha. Deu 20h00, portanto, todas as hipóteses pairando no ar. Preocupação geral. Eu aproveitei para falar com o hotel em La Paz e preveni-los de nossa chegada atrasada e consequentemente assegurar a nossa vaga. Finalmente, um funcionário veio chamar os passageiros para descerem e embarcarem. Entramos. E entra gente. Para não demorar na explicação, o avião saiu superlotado. Tinha até um cara alojado no banheiro de trás. Nós estávamos ali e vimos. Talvez houvesse gente nos bancos dos comissários lá na frente. O avião, pesadão como um hipopótamo, usou toda a pista e até parecia que não alçaria voo. Minutos de sufoco. Sem razão, é claro. Já dentro do avião, decifrei a estratégia da Aerosur. Tendo que gastar o mínimo, reunião vários voos num só. O avião que pegamos veio de Buenos Aires para Santa Cruz. Os voos de Cochabamba para Lapaz e o de Santa Cruz para La Paz previstos para o dia foram suspensos e depois reuniram-se com este de Santa Cruz para La Paz, com escala em Cochabamba. Agora, o avião era muito bom: tinha até bancos de couro e espaço para executivos. Chegamos à La Paz pelas 23h00. Até pegarmos as malas, tomarmos uma van (os passageiros da van não chegaram e deixaram o motorista na mão) e chegarmos ao hotel era meia-noite. As ruas já quase sem ninguém e o hotel fechado (hostal). Mas tinha uma funcionária que estava de plantão e nos acomodou. Até aqui não havíamos sentido nada mais do que uma tonteirinha por causa das alturas. Mas os sinais prometiam. No avião, eu tomei o comprimido comprado em Santa Cruz e a Carmen não quis. Mas nós dois nos demos mal. A noite foi cheia de dores de cabeça, enjoos, e tonturas. Sensação muito desagradável. Não se sabe o que fazer, pois sente-se mal em qualquer posição. De manhã, a Carmen levantou às 7h00 e disse resoluta: é preciso ter uma postura!
Dito isso, arrumou-se, tomou a câmera e saiu. Eu fiquei mais tempo na cama, pois estava sem condições de assumir posição tão firme. De firme eu não tinha nada. Ao levantar para ir ao banheiro tive de pensar um pouco como levantar da posição sentado na cama, pois era tontura, dor de cabeça, e fraqueza. Nessa altura, devo dizer que o nosso quarto é simplesinho, sem frigobar, com os móveis todos em pino eliotis (todo o hotel é assim) e com cobertas que não deixam a gente passar frio de jeito nenhum. O colchão é fofo e não é do nosso feitio, mas não está incomodando. A funcionária ofereceu um aquecedor elétrico, mas ao po-lo em operação, o cujo fazia tanto barulho que resolvemos deixá-lo silencioso, desligado. Creio que eu estava bem mais carente de um sono do que a Carmen porque ela conseguia dormir no avião e mesmo nos bancos do aeroporto. Eu, longo como sou, tenho muita dificuldade para tal. Ela voltou pelas 10h30 e eu recém havia me levantado, agora sentindo que havia me recuperado. Ela retornou suada de ter caminhado essas duas horas. Parara numa farmácia e comprara um comprimido autêntico para o soroche. Deu-me um. Eu ainda estava com dor de cabeça e me sentido tonto. Felizmente, a sensação de enjoo baixou do nível 95% para uns 5%. Tomei o comprimido para ver se acabava com tudo. Agora é aguardar. Ela sacou várias fotos, cada uma melhor do que a outra, como sempre. Eu nunca consigo chegar no nível dela. Como estava cansada, ficou no restaurante do hostal para colocar alguma coisa no estômago e tratar das fotos no micro. Eu fui caminhar. Depois vi que não caminhei todo o trecho que ela cobriu, mas pude confirmar que as ruas aqui do centro são dignas da fama. Lojas de artesanato uma ao lado da outra; roupas de todos os tipos; cores jorrando pelas calçadas, portas e janelas, o povo característico, com seus trajes históricos, a formigar de um lado para outro; os prédios antigos com sua beleza singular; a fiação da rede elétrica, uma barafunda inacreditável. Uma beleza estonteante, com surpresas a pipocar de todo canto, que deixa um fotógrafo amador bem louco, sem saber o que focar. Voltei. Carmen já havia feito o seu lanche e estava revendo as fotos. Pedi um almoço, um pouco receoso, pois afinal recém saíra (será mesmo?) de um soroche à força de comprimido. Veio salada, sopa e macarrão à bolognesa. Esse tipo de comida espero que não venha cutucar o meu enjoo sufocado e adormecido. A Carmen agora foi tirar a soneca dela. Enquanto isso aproveito para espichar estas mal traçadas linhas. São duas da tarde e parece que o meu soroche descansa. Que permaneça assim. Em tempo: o frio de La Paz não está tão tenebroso como era de se esperar. Na verdade, com os nossos casacos se passa muito bem. O dia está ensolarado e eu nesse momento uso apenas uma das minhas camisas de mangas compridas.
Inté.

terça-feira, 17 de abril de 2012

2012-Abril-17. Um dia para rever Santa Cruz … à força.

Pois, pessoal, estamos na Bolivia e porisso devemos estar preparados para surpresas. E a primeira delas ocorreu logo na chegada. Verdade seja dita, esperávamos uma viagem cansativa, com três pernas, FLN-SP-Campo Grande-Santa Cruz, e chegando a Santa Cruz depois da uma da madrugada. Mas isso estava nos planos, antecipadamente aceito, e até o pernoite no saguão do aeroporto também seria assimilado numa boa, tudo num prelúdio, um pequeno custo a ser colocado em cima de uns dias de férias. Mas eis que, ao nos livrarmos da Aduana, com as malas nas mãos, e ao adentrarmos ao salão do aeroporto, depois de encontrar um lugar para ficarmos até tomar o voo 100, da Aerosur, para La Paz, às 6h30, é que nos demos conta de que o tal voo não figurava nos painéis de partidas da manhã de 17/04/2012. Primeiro pensamento: não está atualizado. É madrugada, duas e meia da manhã, e está faltando uma correção qualquer. Tomamos café com quiches de espinafre e de queijo – aliás muito bons – e ficamos de olho no painel. Sempre a mesma coisa. Fomos até um guichê de informações das companhias aéreas, o GEMCO, e a moça disse que o voo não constava porque havia sido transferido para “la noche”. Putz! E agora? O balcão da Aerosur, às escuras. Soubemos que abriria somente às 5h00. Bom, o negócio é esperar. Apelamos para as nossas distrações portáteis: a Carmen sacou do seu bordado e eu peguei o livro que a Sissa me emprestou: Hunter Games. Quando vi, estava com o livro aberto sobre as pernas, a cabeça pendente sobre o mesmo e os olhos … fechados. A Carmen também não aguentou muito tempo. A solução era caminhar pelo aeroporto que tem o dobro do tamanho do de Florianópolis, ou seja, nada para se ver. Mas sempre se acha alguma coisa para fazer, por exemplo, ir ao banheiro. Depois de umas duas horas os zumbis foram até o balcão da Aerosur aguardar as funcionárias, que foram quase pontuais, pois chegaram com uns quinze minutos de atraso. Fomos os segundos a ser atendidos e o resultado foi de que, realmente, o voo fora transferido para as 19h30. Pô! Mas não é possível endossar a passagem para uma outra companhia? Havia duas outras ao lado, a BOA, e a TAM (não se enganem: é Transporte Aéreo Militar, uma empresa aérea) Ambas tinham voos para La Paz de manhã, mas nos disseram que estavam lotados e mesmo porque, não há endosso naquela hora da manhã. Perguntamos se a empresa não tinha um lugar para a gente descansar, dormir um pouco, pois havíamos passado a noite praticamente em claro. A funcionária com uma sonora cara de pau nos indicou o primeiro piso, onde havia cadeiras comuns de aeroporto. Disseram que passássemos pelas oito alí no balcão que receberíamos um voucher para tomar um café. Legal, né?
Claro que a Carmen enfureceu e disse pra mim que a empresa era uma “mierda” e que tinha vontade de dizer isso bem alto e bem ali na tampa.
Saímos os dois muitos p da cara andando pelas cinco e meia da manhã pelo saguão do aeroporto. Pensamos assim: não adianta nada emputecermos, vamos aproveitar o tempo da melhor forma possível. E mais, vamos tirar de letra, sair numa melhor. Aproveitar o fato para dar um colorido maior à nossa viagem. Ideia: vamos deixar as malas no aeroporto (tem um guarda-malas) e vamos para Santa Cruz, rever o mercado público que é uma festa de bugigangas e outras coisas e lugares que curtimos na vez passada. Vamos almoçar num bom restaurante e quem sabe saborear um gostoso sorvete nessa encalorada cidade. E assim decidimos. Estamos prontos para a aventura. Estamos imaginando como será a nossa noite em La Paz, depois de uma noite sem dormir e um dia passeando pelas ruas de Santa Cruz de La Sierra. Depois contamos.

sábado, 14 de abril de 2012

2012-04-14 - Expedição à Bolívia

Alo Pessoal!

Criei esse blog para ver no que dá.

2012-04-14. Florianópolis. SC. Brasil.

Segunda-feira, dia 16, iniciaremos viagem à Bolívia para uma excursão de uns doze dias. Tudo está planejado e a expectativa é grande. Como informação inicial, abaixo segue o roteiro. Se tudo correr dentro do previsto, pensamos em dar informações durante a viagem. Vai depender da disponibilidade de acesso à web. Esperamos fazer contato. Enquanto isso, deixo um abraço a cada um.


DIA
SEM
ATIVIDADE
POUSO
HOTEL





16
2A
FPOLIS-SP-STA CRUZ - CHEGA-SE DIA 17 AS 01:20 EM S.CRUZ
AEROP S.CRUZ
SAGUÃO DO AEROPORTO
17
3A
STA-CRUZ-LA PAZ VOO AEROSUR DAS 06:30 AS 7H30.
LA PAZ
POSADA DE LA ABUELA OBDULIA
18
4A
LA PAZ
LA PAZ
POSADA DE LA ABUELA OBDULIA
19
5A
LA PAZ
LA PAZ
POSADA DE LA ABUELA OBDULIA
20
6A
LA PAZ-ORURO: BUS SAI ÀS 10:00; TREM A UYUNI: DAS 15:30 ÀS 22:00
UYUNI
TAMBO AYMARA UYUNI
21
SAB
DRIVE NO SALAR. OLHOS DE SAL. HOTEL DE SAL. ILHA DO PESCADO. POUSO EM SAN JUAN.
UYUNI
POUSADA NO SALAR
22
DOM
VULCÃO OLLAGUA. VÁRIAS LAGOAS E MONTANHAS. ÁRVORE DE PEDRA. FLAMINGOS. LAGUNA COLORADA.
UYUNI
POUSADA NO SALAR
23
2A
GEYSERS. FONTES TERMAIS. LAGOA VERDE. VALE DAS ROCHAS.
UYUNI
TAMBO AYMARA UYUNI
24
3A
UYUNI - POTOSI - ÔNIBUS SAI AS 9:00
POTOSI
SANTA TERESA
25
4A
POTOSI - SUCRE - ÔNIBUS
SUCRE
VILLA ANTIGUA
26
5A
SUCRE
SUCRE
VILLA ANTIGUA
27
6A
SUCRE - S.CRUZ - VOO AEROSUR
S.CRUZ
SAGUÃO DO AEROPORTO
28
SAB
S.CRUZ - SP - FPOLIS SAI AS 04:40; CHEGA ÀS 18H35.
FPOLIS
APT