quarta-feira, 25 de abril de 2012

2012-04-25 - Alcançando a última etapa: Sucre


2012-04-25. Potosi-Sucre
Ontem jantamos no Hotel. Reclamei da água fria e o pessoal do hotel reajustou o sistema de aquecimento central resolvendo o problema. Fomos para a cama cedo, pois no dia seguinte tínhamos o tour pelas minas.
Às 8h00 em ponto a guia estava na portaria do hotel. Já estávamos prontos e embarcamos numa daquelas mini-camionetes e fomos em direção ao famoso Cerro Rico. Na subida, ainda na cidade, paramos para colocar a veste de proteção: calças e casacos plásticos, capacete, botas e um lenço para proteção nasal. Em seguida paramos numa lojinha de venda de produtos para mineiros, e depois de ouvir a explanação da guia Here, tivemos de comprar material para presentear mineiros nas minas. (Here é uma mulher de aproximadamente 1,5m ou menos. Suas idéias são revolucionárias, criticando a forma como o país exporta suas matérias primas sem uma compensação razoável para o povo boliviano) O material era um pacote de folhas de coca, que eles - hábito secular - mastigam permanentemente enquanto trabalham, uma garrafa de refrigerante 2 litros e uma garrafa de água mineral de 350 ml. Compramos dois conjuntos, um para eu levar e outro para Carmen. Com isso, voltamos à camionete e retomamos a subida. Quando estávamos quase lá, encontramos um paro, ou seja, um bloqueio. Ficamos numa fila de uns 500 m. Esperamos um pouco e resolvemos ir a pé. Fomos. Chegamos na boca da mina e ali nos foram adaptadas duas lanternas no capacete e as respectivas baterias levadas à tiracolo. Iniciamos a entrada e andamos num túnel horizontal de aproximadamente 500m. Era baixo e nos obrigava a nos encolher frequentemente para passar armações, cabos, e outros dispositivos. Era escuro e a luz disponível vinha de nossas lanternas. O piso era enlameado e seguidamente com uma camada dágua. O caminho tinha trilhos por onde saiam do fundo da mina os vagões carregados de minério. De vez em quando mineiros nos passavam. Here quando os chamava, gritava "ola macróbio" e depois nos disse que esse tratamento era comum entre eles, e macróbio significava amigo ou coisa assim. Chegamos num ponto onde haviam novos túneis, mas agora descendo na vertical. Daí não passamos. Expedições turísticas mais radicais levam os turistas também por estes buracos. Encontramos vários mineiros e para alguns deles entregamos os nossos “presentes”. Tiramos algumas fotos e retornamos. Apesar da poeira, do lodo, da água, etc., a gente não suja as roupas, pois estas ficam completamente protegidas. Na saída da mina, não havia mais bloqueios. Estávamos em cima da hora para ver o Museu de la Moneda. Na verdade o nosso turno no museu iniciou 10h45 e não às 10h00 como previsto. Há um acervo muito bom nesse museu. Um guia acompanha o grupo durante toda a visita que demora uma hora e meia. Inicia com a história da exploração da prata em Potosi, os precursores dessa exploração, pinturas de artistas locais da época contando a história de Potosi, a chegada dos espanhóis, as primeiras cunhagens, amostras de moedas das diversas épocas, máquinas de cunhagem, moinhos utilizando mulas, máquinas para fundir prata e cobre, e assim por diante. Saímos satisfeitos. Nos despedimos das duas moças, espanhola e austríaca, que de certa forma haviam feito uma aproximação conosco por ocasião da chegada em Potosi, quando pegaram conosco o táxi para o centro da cidade. Descemos a rua até a agência de viagens e checamos a viabilidade de ir de ônibus para Sucre, o que se mostrou impossível por causa dos bloqueios. Restavam duas alternativas: van compartilhada, a custo de 200 bolivianos no total, e táxi expresso, para duas pessoas, também a 200 bolivianos. Tentamos o compartilhado e não deu. Nos ajudou muito a administradora da agência de viagens Amigos de Bolivia, a Evelin, mãe de uma menina muito simpática chamada Fabiana que sempre esteve na agência quando lá comparecíamos. Usamos a última alternativa. Pagamos os 200 bolivianos, o que, na verdade, significa aproximadamente 70 reais para uma viagem de 120 km. Se fôssemos de ônibus, gastaríamos algo em torno de 25 reais. A viagem foi rápida, pois a estrada tem pouco movimento e é asfaltada. O que notamos foi que a paisagem mudou. A altitude média (de Potosi para Sucre) baixou cerca de 1000 metros e as planícies já não eram desertas como na viagem do dia anterior. Quando não havia cultivo, as pradarias eram dominadas pelas mesmas plantas da zona mais alta, porém muito mais robustas, maiores, e também apareceram muitas árvores no contexto. O motorista, Juan, bastante jovem, corria bastante e era muito interessado em aprender palavras em português. Como eu vim na frente, tive de ensiná-lo um pouco. Além disso, ouvimos músicas bolivianas durante todo o trajeto e por vezes num volume um pouco alto. Chegamos a Sucre pelas 16h00. O táxi nos deixou na porta do hotel, o que não aconteceria se viéssemos de ônibus. Deixamos as coisas no quarto e saímos pelas ruas. Primeiro fomos à agência da Aerosur saber se o nosso voo estava confirmado. A primeira informação foi de que havia mudado de horário. Insistindo, soubemos que a Aerosur reduziu seus voos a partir de Sucre em direção à Santa Cruz, antes diários, agora ocorrem segundas, quartas e sextas. Como o nosso é na sexta, tudo está esquematizado para sair no horário. Mesmo assim, ficou combinado de voltarmos à agência no dia seguinte para saber se haveria novidades. Caso o voo fosse suspenso, a alternativa seria comprar uma passagem por uma das outras companhias e depois tentar reaver o valor pago à Aerosur, o que seria praticamente impossível. Sucre tem uma área central preservada pela Unesco. Vários prédios da época colonial estão intactos e despertam a atenção dos fotógrafos amadores. Realmente Sucre é um primor de cidade. Os trajes indígenas já não são tão frequentes como em Uyuni e Potosi. Os prédios e as habitações do povo nos arredores já tem outro visual. Se nos bairros de Potosi vê-se apenas casas com tijolos aparentes, aqui elas têm reboco e o visual muda. Há uma fragrante mudança na cultura dessa cidade com relação às outras anteriores. Visitamos várias igrejas, o mercado público, a praça central e paramos num café - “Las Delicias” - onde tomamos café e chocolate quente acompanhados de pão de queijo e um salgado feito com arroz. Depois caminhamos pelas ruas, descansamos na Praça Central e decidimos jantar mais cedo, pois o ar tornava-se um pouco frio e não queríamos ir tarde para o hotel. Entramos no restaurante Salamandra e comemos duas sopas quentes de verdura, acompanhadas de chá (Carmen) e de cerveja Pacena (eu). Delícia. Saímos de lá e agora estamos aqui, no quarto, pondo em dia a correspondência.

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