quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Página 7 - MARANHÃO - São Luis - Lençóis



DIA 17/08/2013 – voo.
Marcelo, Fran e Dan nos deixaram no Aeroporto pelas 17h. Feito check-in, fomos fazer tempo no Conquilhas e lá se foram dois cafezinhos com leite. O objetivo era conseguir troco, pois estávamos com notas de R$ 100 e teríamos de pagar taxi em São Luis. Saímos no horário e todos os demais vôos que fizemos saíram aproximadamente no horário. Em Brasilia fizemos um bom lanche, pois a Gol agora só disponibiliza alimento mediante venda. Aterrissamos em São Luis perto das 3h00 de domingo, 18, e pegamos um taxi contratado dentro do saguão do aeroporto sob os avisos de muito cuidado ao contratar taxis avulsos. A cidade, como era de se esperar, estava vazia. Pegamos um  motorista que estava disposto a conversar e dar dicas sobre a cidade, o que nos foi muito útil. No trajeto, ia apontando locais interessantes e fazendo recomendações sobre segurança, etc. Chegamos podres de sono ao Hotel Veleiros. Recebemos as chaves e tratamos de dormir. Na manhã seguinte não iríamos fazer nada de especial além de passear na Avenida Litorânea, que margeia as principais praias da cidade. Antes de deitar ainda tivemos um tempinho de abrir a janela e observar a iluminação da praia da Ponta da Areia. Havia movimento nos bares e alguns carros movimentavam-se lá em baixo. Estamos no sétimo andar e com ampla vista para a praia. O local é realmente muito bom e o hotel também.



Dia 18/08/2013 – Domingo e primeiro passeio em São Luis.
Acordamos depois das 9h00. Ainda bem que deu para tomar calmamente o nosso café da manhã. O atendimento para o desjejum no hotel é até as 10h e  o encarregado com muita cortesia veio nos avisar de que começaria a retirada dos alimentos da mesa. Pegamos mais uns pães de queijo, sucos, omeletes, etc. e ficamos até às 10h30 aproximadamente enchendo a pança. Pegamos nossas coisas, tomamos um táxi e rumamos para a Litorânea. A corrida foi de uns dez qulômetros. Descemos e procuramos por dois hotéis recomendados pelo motorista da noite anterior. Vimos que os preços eram mais caros do que os do Veleiros e resolvemos fixar acampamento nesse último. A partir de então iniciamos uma caminhada monumental: cerca de seis quilômetros. A Litorânea é uma bela duma avenida. Há um calçadão ao longo de três praias e de cem em cem metros um barraco com restaurantes, bares e muitos bons lugares para interessados que querem aproveitar a praia. A primeira dessas praias, vindo de onde descemos do táxi, chama-se Calhau e é a praia com melhor infraestrutura, pois além de bons restaurantes, estes têm muitas árvores e portanto sombras agradáveis e convidativas. Gostamos muito dessa parte da praia. Parávamos de vez em quando para tirar fotos, chegar até a areia, mas o nosso objetivo era caminhar para conhecer todas as principais praias ao longo dessa avenida.



Como o dia era de sol, pensamos antes de sair que seria terrível caminhar muito. Porém, aqui acontece algo surpreendente: o vento contínuo que sopra de leste para norte deixa o calor suportável. Não há aquela sensação de desânimo, de prostração, que acontece com o calor úmido das cidades do sul. A gente não sua muito. O resultado foi que caminhamos cerca de três horas e poderíamos ter caminhado mais. Quando finalmente achamos que estava na hora de ir para casa, tomamos um táxi e voltamos. Tiramos algumas fotos da aventura e tomamos apenas uma garrafa de água mineral cada um numa das paradas que fizemos. Passamos pela casa da família Sarney, que fica num terreno alto de frente para a Litorânea. A faixa de areia da praia no horário em que passamos era cerca de 200m. Além disso, plana e firme. Ora, oito quilômetros com faixa de areia nessas condições pedem e recebem centenas de freqüentadores, a maioria praticando esportes, principalmente futebol. Mais tarde entenderíamos aquela voracidade pela prática de esportes: as marés aqui variam de 4 a 7 metros diariamente, conforme a lua, e o tempo disponível para o esporte é o tempo em que a maré está baixa, como estava na hora em que passamos. Depois, o mar sobe e toma toda a faixa, obrigando os esportistas abandonarem seus jogos.



É óbvio que chegamos cansados ao hotel. Tomamos banho e fomos para o almoço. Nosso apetite “pedia” uma bela salada com algum complemento. Nos resolvemos por uma lazanha à bolonheza. Terminamos nosso almoço pelas 17h00 e voltamos ao quarto onde descansamos e vimos futebol pela TV, inclusive o timinho do Inter empatar jogando a metade da partida com um a mais em campo. Antes de terminar o jogo do Inter descemos ao restaurante para tomar um café e dar por encerrado o dia.

Dia 19/08/2013. Programa Três em Um.
Pois é. Suspendemos o aluguel do carro que estávamos planejando e resolvemos aderir a um programa de visita a duas localidades próximas de São Luis e que fazem parte da “Grande São Luis”: São José de Ribamar e Raposa. É um pacote que sai às 8h40 do hotel e termina às 18h com o retorno. Saímos numa van com ar condicionado e com outros nove companheiros. Eram casais e jovens que visitavam São Luis, seis deles em grupo e os demais avulsos. Em São José de Ribamar visitamos a igreja e um monumento a São José que fica na beira da praia. Essa cidade foi fundada para cumprir promessa de um comandante de navio português que afundava nas proximidades e que se salvou  graças a um milagre atribuído a São José. O nome Ribamar veio de “acima ou arriba do mar”, que caracteriza o lugar da cidade que é situado numa elevação. A igreja existente é a versão 3.0, pois a primeira e a segunda que foram construídas de costas para o mar ruíram e a que visitamos está virada de frente para o mar e ainda permanece em pé. Na esplanada da igreja há uma sequência de uns oito monumentos esculpidos em pedra sabão por um artista mineiro e que mostra momentos da vida de São José. Estas imagens medem cerca de 1,8 m cada, supondo-se que representem o tamanho natural do ser humano.
Como não poderia deixar de ser, há venda de artesanato e a maioria do pessoal parou numa tenda de chapéus de palha. Carmen levou o seu. Destaque que, na escadaria onde funcionava essa tenda, surpreendemos um cão deitado, dormindo e... sonhando, pois ele se agitava todo, emitia sons parecidos com latidos, mas dormia profundamente. Até filmei-o.



Dalí fomos para Raposa, vilarejo de 20 mil almas, quase todas dedicando-se à pesca. Esse local também é notável pelas rendeiras que habilmente manejam seus bilros para fazer peças espetaculares de renda. A maioria do pessoal de Raposa veio migrado do Ceará. Em Raposa está o manguezal mais extenso do mundo, nos contou o guia José Raimundo. Até há poucos anos não havia estrada para Raposa, e só chegava-se lá via marítima. Hoje o Ibama permitiu a construção de um acesso asfaltado que vai manguezal a dentro e chega à praia. Foi por esse caminho que chegamos à Raposa. Era cerca de 11h30. Numa rápida parada fizemos nossos pedidos de pratos para o almoço num restaurante indicado pelo guia. Depois seguimos para o centro da vila para ver artesanatos locais e esperar pela hora do almoço. Paramos no meio dum conjunto de casinholas onde se vende rendas. Tivemos uma hora para visitar as tendas. Realmente trabalhos muito vistosos, de bom gosto, e aparentemente com bons preços. Tive a curiosidade de olhar como era o manguezal que está por trás das tendas, em toda a extensão da estrada asfaltada. Há umas passagens estreitas entre as tendas que não podem ser percorridas por serem  chão lamacento. Mas dá para ver a imundície que impera por detrás das construções. Lamentável. Agora, a limpeza das tendas, ou com assoalho de madeira ou de ladrilhos(raros) é notável. Até encerados eu diria que são. Mas escondem, por debaixo de seu asseio, uma triste realidade. A Carmen comprou uma cobertura de sofá, que pode transformar-se em toalha de mesa, dependendo do gosto do freguês. Mas ficamos de queixo caído frente a muitas peças expostas nas tendas. É preciso resistir à vontade de comprar mais coisas. 



Depois das compras, voltamos ao restaurante e almoçamos. Sem mentira nenhuma, mas foi um dos peixes mais saborosos que comi nesse ano. Uma pescada pequena, segundo o cardápio, prevista para duas pessoas. E deu. E foi muuuuito gostosa. Tiramos fotos para que o pessoal possa, pelo menos, ver o colorido do prato. Eles usaram um molho de cor alaranjada para marrom, de sabor indescritível. Perguntamos a receita, mas a moça desconversou e disse que fazem ali mesmo e entra molho de tomate, vinagre, limão e mais não sei o que. O que resta é a lembrança de um prato muito saboroso.



Depois do almoço, fizemos hora para esperar a maré subir. Aqui tudo depende da maré. Pelas 14h30 estávamos na beira do braço de rio que chegava ao mar para tomarmos a embarcação para nosso passeio. E aí foi que houve algum desacerto na empresa de turismo e tivemos de esperar quase uma hora. Tivemos que ficar andando pelo local para lá e para cá, achando sombras e arrumando coisas para passar o tempo, que era catar sementes de árvores, tomar refrigerante, etc. Finalmente entramos no barco Letícia e fomos pelo braço de rio acima, acompanhando a subida da maré mas indo de encontro ao vento, sempre o vento. Ainda bem que tem esse vento. Ele refresca e nos engana dizendo que o sol não está tão quente. Andamos cerca de meia hora e ancoramos no meio do braço do rio, alguns quilômetros adentro, em pleno manguezal. Profundidade de cerca de 1,5m para mais e subindo. Todo mundo atirou-se nágua, inclusive a Dona Carmen. Água quase morna, nada fria. Delícia. Depois do refresco, voltamos ao barco e rumamos para outro local. O barco atracou novamente e andamos pelas dunas e chegamos ao mar. A caminhada foi de 800m mais ou menos. Aí vi algo que me impressionou. No mar estavam fincadas estacas (depois soube tratar-se de varas de manguezal) enfileiradas que iam mar adentro como se fosse uma cerca sem arame até um ponto onde outro conjunto de estacas formando um quadrado encerrava a armação. O guia explicou que as estacas mais da beira, faziam com que os peixes evitassem a passagem pela fileira, seguindo ao longo delas até o quadrado, este agora com uma entrada e sem saída, pois a volta, caso o peixe quisesse voltar, seria impossível , pois encontraria pontas afiadas que o impediriam de retornar. Perguntei: sim, mas  como fincam essas estacas, pois no Sul isso não é possível, o mar arrancaria as estacas? E então veio a explicação: aqui é possível por causa da maré baixa. As estacas são cravadas sem água, e usam-se apetrechos para enterrá-las bem fundo, com mais de metro de profundidade, coisa que não se pode fazer no sul, pois não há essas variações de maré. Outra coisa: precisa ser vara de manguezal, pois madeira de água doce apodrece. Vivendo e aprendendo.



Dali retornamos a São Luis. Era 18h00 quando chegamos e estávamos novamente com fome. Tomamos um banho reparador e fomos para o restaurante.
Dia 20/08/2013. Centro Histórico.
Tomamos o nosso café pelas 8hoo. Aliás, vamos falar um pouco sobre esse café. É um Buffet com dois tipos de suco natural de frutas, e desses já tivemos manga e abacaxi; bacuri e cajá; e manga e goiaba. Frutas tem sempre melancia, banana  e melão e mamão. Depois tem pães: de trigo, media luna, massa folhada, pão de queijo, bolos, e um pão que eu diria gomado, pois a massa parece a parte interna de um pão de queijo mal cozido. Queijo, presunto. Molho de tomate com  salsicha fatiada (esse domina no Brasil inteiro) acompanhado de omelete e claro, café com leite. Pode-se dizer que é um bom Buffet, mas nada de arregalar os olhos.  
Chegou a nossa van e embarcamos. Ontem quando fizemos a reserva ficamos na dúvida se estávamos fazendo a reserva para o passeio certo. Depois de muito conversarmos com o pessoal do hotel, achamos que era esse mesmo. Ledo engano. Saímos às 9h00 e fomos buscar outras pessoas em hotéis da zona litorânea e como estava programado, o guia foi explicando essa região, que já conhecíamos. Bom, vá lá. Sabíamos que ia acontecer isso. Só que, ao chegar ao centro, a primeira parada foi no Ceprama – um centro de artesanato do Maranhão. Coisas belíssimas, mas ficamos parados ali cerca de 45 minutos para compras. E não estávamos interessados em compras.



Depois, já pelas 11h, finalmente iniciamos o Centro Histórico, pelo Palácio dos Leões, ou palácio do governo, que só pudemos ver pelo lado de fora. Era hora da maré vazante e uma planície imensa estendia-se donde estávamos em direção ao mar. No final da tarde, tudo estaria coberto de água novamente. Em seguida, paramos no que se chama de Tambores Criolos, um terreiro onde se pratica danças africanas e onde um senhor, Amaral, é o líder. Trata-se de um terreno que foi abandonado e ocupado por esse senhor que desenvolveu seu trabalho e hoje tem a posse desse terreno central.  Essa visita também não nos interessou e logo fomos procurar ângulos para fotografia enquanto o que restou do pessoal ficou ouvindo as explicações do guia. Saindo dali visitamos a Catedral da Sé, obra imponente e bonita.



O guia contou a história de Ana Jansen, primeiramente uma mulher de vida fácil e depois de casar-se com um dos ricaços da região, ter quatro filhos e enviuvar, tornou-se a mulher mais poderosa do Maranhão. Tenho de pesquisar na internet para saber mais sobre essa dama. Saindo da Catedral descemos a Rua do Giz, onde há inúmeros casarios. O guia ia mostrando pontos importantes e deu por encerrada a parte do Centro Histórico. Enquanto os demais foram andar pelo centro, acompanhamos o guia até um Centro de Informações Turísticas, onde ele nos deu dicas do que visitar no período da tarde. Em resumo: essa tour significou uma perda de dinheiro sem necessidade. Poderíamos ter pego um táxi, vir ao Centro, e perguntar num Centro de Informações Turísticas sobre o que fazer. Bem, mas nem tudo foi ruim. Conhecemos o Ceprama, e andamos a manhã inteira em van com ar condicionado. Deixamos nossa tour e fomos por nossa conta. Primeiro, visitamos a Casa de Nhozinho, um artesão que contraiu desde a infância uma doença degenerativa que o fez defeituoso das mãos e das pernas, a ponto de perder as duas pernas. Mesmo assim, fez trabalhos magníficos. Quando não possuía mais habilidade e força nas mãos passou a usar galhos de buriti – mais macios – para fazer as suas obras. Ele via os festejos de bumba-meu-boi e fazia bonecos de madeira imitando as pessoas participantes. Os bonecos são pequenos, de cerca de 30cm de altura, todos paramentados e em posição característica de dança, etc. Nesse mesmo museu há vestimentas, peças de madeira, de barro, feitas por pessoas humildes e indígenas da região. Ficamos quase uma hora ouvindo as explicações de Sissa, nossa guia. Era quase uma hora da tarde e estávamos com fome. Fomos ao restaurante recomendado pelo guia: São Francisco. Era o que precisávamos: comida a quilo, boa, e com preço bom. Gostamos e recomendamos para quem venha ao Centro Histórico e para quem as refeições não estão sendo consideradas como ponto alto do dia. Come-se bem, mas dentro da normalidade. Dali fomos ao Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho. Entramos num grupo guiado e começamos a ouvir. Tratava-se de explanações sobre a Festa do Divino, originária de Alcântara, cidade vizinha. Depois de uns 15 minutos, concluímos que não era o nosso objetivo ficar ali. Assinamos o livro e saímos. Atraídos pelas informações da internet e outras, decidimos visitar o Convento das Mercês. No trajeto, como também nos demais trajetos já feitos, vários, muitos, muitos casarios, verdadeiras tentações para quem gosta de fotografia. Batemos muitas fotos, muitas delas enfeitadas com carros, pois estes estacionam em filas nas estreitas ruas e atrapalham as imagens das velhas construções.



O Convento afasta-se um pouco do Centro e o ambiente começa a ficar mais incerto para o turista. Mesmo assim, prosseguimos e entramos no Convento. A parte superior (tem 2 pisos) estava em reforma e por isso ficamos apenas no térreo. Tivemos sorte pois ao iniciar conversa com um rapaz que afixava fotos numa parede, este se dispôs a dar informações sem que insistíssemos. Ia por boa vontade e foi muito prestativo.



O Convento tem aquele aspecto de convento, com um amplo pátio interno, arcos ao redor do mesmo e corredores ao lado dos arcos. Ultimamente retirou-se o reboco que fora colocado anos antes e agora se vê as pedras e o material usado como cola entre elas. O Convento das Mercês é hoje uma fundação e pelo que tudo indica, vai ser um museu José Sarney, recordando seus dias como presidente. Saímos dali e fomos em direção ao Museu do Negro, mas esbarramos na porta onde funcionários nos disseram que acabara de entrar em manutenção. Voltamos ao Centro, tomamos uma coca num bar e fomos à procura da Fonte do Ribeirão. É uma fonte antiga que alimentava a cidade com água doce lá pelos idos do século 17. A água ainda sai pelas bocas das caras de pedra, caras estas feitas por se acreditar, na época, que a poluição ou contaminação da água vinha de espíritos maus e elas poderiam afugentá-los. A Carmen bateu fotos e eu fui até as caras de pedra vendo, no caminho, que os córregos canalizados continham centenas de peixes pequenos que fugiam apavorados com a minha presença em movimento. Dali, procuramos e achamos o Teatro Arthur Azevedo. E aí encontramos uma grata surpresa. Decidimos aceitar a oferta do guia James de nos dar uma explicação completa sobre o Teatro. Ele nos contou a história toda do teatro e nos levou aos mais remotos recantos da construção, inclusive o camarote presidencial; os camarins dos artistas; o local dos controles das cortinas e da iluminação; o subterrâneo; as saídas dos artistas para a rua; os locais de ensaios; enfim, em todo o lugar. Seguindo James, esse teatro é o número dois do Brasil, ficando só atrás do Municipal do Rio.



Valeu a visita. R$ 5,00. Dali, visitamos a Igreja do Carmo que, diga-se de passagem, nos saudou com um belo badalar de sinos. No retorno ao Centro, passamos no BB para abastecer nossas minguadas economias e tomamos mais uma coca no mesmo barzinho de rua, cujo dono já ficou nosso amigo. Ainda batemos fotos daquela planície de areia vista ao meio-dia, só que agora completamente inundada com um mar agitado. Tomamos um táxi e rumamos para o hotel. No caminho, conversando com o taxista, um maranhense do interior mas que conhece quase todo Brasil, ouvimos lamentos sobre a condição do casario de São Luis. E culpa os governantes. Na verdade, dá pena de ver tantos e verdadeiros monumentos em tão deplorável situação.  Antes de entrarmos no hotel decidimos sair a caminhar ao redor da “lagoa” que fica ao lado do hotel. Andamos uns 800 pela trilha acimentada e resolvemos voltar porque estava anoitecendo e já estávamos cansados. Voltando, uma senhora que passava nos disse: cuidado, eles estavam olhando para vocês! É a segunda vez que nos alertam sobre o porte de câmeras e bolsas. O que fazer? Turista é assim mesmo. E continuamos caminhando em direção ao hotel, mais agarrados ainda às nossas coisas. Entardecia.

2013 – Barreirinhas – MA
Dia 21/08/2013. Lagoas Azul, Esmeralda, da Preguiça.
Tudo começou às 7h00 com a saída do Hotel Veleiros, em São Luis. O micro-ônibus chegou pontualmente. Fomos os primeiros a entrar no veículo e cada um ocupou um lugar separado, na segunda fila. Depois, foram entrando novos passageiros, inclusive alguns na saída da cidade, e no final ficamos separados com um companheiro desconhecido ao nosso lado. A viagem foi tranqüila, com uma parada intermediária para lanche. A lanchonete era grande, com muito espaço para atender viajantes desse trecho. A estrada é toda asfaltada e nos seus primeiros quilômetros está duplicada e em trechos diversos em obras para duplicação. Aproveitei meu tempo fazendo palavras cruzadas. O micro-ônibus entrega os passageiros na porta de cada pousada. A nossa foi a penúltima a ser visitada. Fica numa viela sem calçamento e afastada uns 400m da rua principal asfaltada. Ao chegarmos tivemos uma impressão ruim da cidade, pois as ruas percorridas, do centrinho, eram todas estreitas, sem calçamento e as casas muito modestas. Nossa pousada, a Pousada do Riacho, é uma pousada muito simpática, simples, com chalés individuais, todos com ar condicionado. No nosso quarto tem duas camas, uma cama box, como temos lá na Praia dos Ingleses num dos quartos, e outra de solteiro. A TV pega canais abertos e poucos por assinatura. É estranho, pega a ESPN, mas não pega a TNT que é um canal que está praticamente em todo tipo de assinatura. Pouco importa, a gente não vai ficar em frente da TV. O pátio é muito bem feito, todo florido nos caminhos e bem cuidado. Os chalés e o espaço para café da manhã são todos com tijolos à vista.



Chegamos às 12h30 e já tínhamos passeio programado para a tarde, às 14h. Por indicação da moça da portaria, fomos direto procurar um pequeno restaurante que fica na via principal asfaltada. Comida simples, feijão, arroz e salada, mas acompanhada dum frango ensopado que nos satisfez plenamente. Voltamos, botamos nossas roupas de banho e logo embarcamos na “jardineira”, uma camionete Toyota 4x4 com quatro bancos estofados na carroceria coberta.




Fomos em 11 pessoas, a maioria da nossa pousada. Andamos pelas ruelas do centrinho para pegar os turistas que faltavam e iniciamos o tour. Primeiramente tivemos de atravessar o Rio Preguiça com balsa. Cabem duas Toyotas na balsa dessa travessia. A travessia é rápida, pois o rio deve ter uns 100m de largura. Os turistas desembarcam para a Toyota entrar na balsa e só reembarcam depois, já na outra margem. Em seguida, começou a surpreendente viagem até os Lençois. Anda-se mais ou menos uns 20km em terreno de dunas planas, repleta de mato baixo, digamos de 3m de altura em média. As trilhas para passagem são exatamente da largura das Toyotas, de forma que os galhos ficam raspando nos canos de proteção da camionete que também servem de suporte para a lona de cobertura. O tráfego de camionetes é tal que ficam trilhas cavadas na areia, tortuosas, esburacadas, que fazem as Toyotas sacudirem para todos os lados bem como para cima e para baixo. Há momentos em que ela pega uma sequência de pula-pulas, depois curvas violentas para quaisquer dos lados, enfim, é preciso estar firmemente agarrado nos canos disponíveis ao redor da gente. Cabem três pessoas em cada banco e os três têm de fazer força e ginástica para não deslizar e cair sobre o vizinho ou para fora do veículo. Viagem com emoção, sem duvida, como se diz nas dunas de Alagoas. Andamos uns 40 minutos com esses sobressaltos e então começamos a divisar as dunas brancas ao longe. É a hora em que a alegria toma conta dos turistas. Desembarcamos e de imediato o guia nos levou duna acima para chegarmos à primeira lagoa, a denominada “dos toyoteiros”. Fomos uma das primeiras turmas a chegar. Não havia quase ninguém. As lagoas são todas rasas e a profundidade típica é de cerca de 80 cm. As águas são cristalinas e a da Lagoa Azul, que visitamos logo em seguida, vista de cima, parece azul-esverdeada. Aliás, quase todas são esverdeadas. E o melhor: temperatura agradável,  em torno de 25 graus.



Para qualquer lado que se olhe tem gente se agitando para tirar as roupas sobressalentes e cair na água. A lagoas não são pequenas de forma que a gente não fica dando encontrões nos vizinhos. Eu diria que o comprimento médio das lagoas, quase todas em forma de bumerangue, é de cerca de 200m podendo variar muito. Pode-se ficar tranquilamente tomando banho longe dos demais. Não é proibido colocar protetor solar e nós  o usamos, até porque o sol aqui castiga e o vento faz com que não sintamos as queimaduras. Ficamos bastante tempo nessa primeira lagoa dos toyoteiros e então o guia nos convidou para seguirmos adiante visitar outras. Subimos e descemos dunas sempre pasmados com a beleza daquela imensidão que a cada cume oferecia novas e maravilhosas imagens. Longe avistávamos cordéis de pessoas caminhando na crista das dunas, procurando por outras lagoas. Eram turmas de outras Toyotas. Segundo o guia, pode-se caminhar para todos os lados que sempre vai se encontrar novas lagoas. Paramos em três delas e em todas não resistíamos à tentação de entrar na água. Centenas de fotos foram tiradas, mas conclui-se que as câmeras não guardam a impressão que se têm ali, pessoalmente.



No final da tarde, chega o momento culminante do passeio: a hora de observar o pôr-do-sol. Os guias indicam a crista da duna mais elevada e ali o pessoal de todas as turmas daquela tarde reúne-se e dispõe-se em linha aguardando o ocaso com uma parafernália fotográfica digna de nota. A Carmen subiu cedo a duna e escolher o seu lugar, enquanto eu fiquei aproveitando o quanto dava a lagoa que ficava aos pés da duna onde estava o pessoal. Quando o sol ficou fraco, e ameaçava descansar, o ventinho perene do Maranhão chegou a causar sensação de frio em algumas pessoas. E a gente se perguntava: como contar para os amigos que se chegou a “sentir frio” no Maranhão?



Nesse dia as nuvens não cooperaram e o pôr-do-sol não foi lá essas coisas em termos de colorido. Mas não deixou de ser espetacular, acompanhado que estava de belas e famosas dunas e lagoas.
Encerrado o show do anoitecer, ao descer a duna em direção às Toyotas, nos demos conta de que iria começar nova aventura. Umas quinze camionetes aguardavam os turistas. Notava-se certa pressa dos guias e motoristas em ver seus passageiros embarcados. O motivo era simples: chegar na frente para evitar os últimos lugares na fila da balsa.  As Toyotas voavam pelas estreitas e sinuosas trilhas jogando-nos para cima e para baixo, para um lado e para o outro que nem vaqueiros em pleno rodeio. Na metade da viagem, que foi de pouco mais de meia hora, anoiteceu. Acenderam-se os faróis e a corrida prosseguiu. No meio da planície escura havia dezenas de trilhas alternativas, e os motoristas tomavam atalhos para ver se conseguiam ultrapassar seus concorrentes. Fomos os terceiros, de modo que pegamos a segunda viagem da balsa. No porto, sob um telhado de palha, algumas nativas faziam na hora deliciosas tapiocas e as vendiam aos turistas. Carmen pediu uma tapioca com leite condensado e coco e eu uma com queijo. Delícia, ainda mais para quem passara a tarde sem nenhum lanche. Atravessamos o rio e logo estávamos na Pousada. Após um reconfortante banho saímos para a Beira Rio, no Centrinho, onde fervilham turistas e onde há meia-dúzia de restaurantes agradáveis. A Beira Rio é uma rua que margeia uma das inúmeras curvas do Rio Preguiça que banha a cidade. Além da rua e do calçadão há um deck de madeira junto ao singelo porto. Muitos barcos atracados dão um colorido especial àquele espaço. Escolhemos o Restaurante Barlavento e pedimos uma peixada. Maravilha. Os pratos com peixe têm preços que giram em torno de 35 para uma pessoa e 50 a 70 para duas pessoas. Vimos que um prato para uma pessoa com mais uma salada de entrada dá perfeitamente para duas pessoas jantarem bem e sentirem-se satisfeitas. Uma dupla de acordeonistas montou banca na calçada e entoou cantigas sertanejas com volume moderado, o que nos agradou bastante. Voltamos à Pousada pelas ruas principais, o que nos custava uns quinze minutos de caminhada.

Dia 22/08/2013 – Caburé.
Tomamos nosso café e às 8h30 estávamos prontos. Era programa de dia inteiro. Turistas empuleirados na Toyota, saímos da pousada em busca de outros em outras pousadas. Chegamos à Beira Rio e diversos barcos aguardavam a hora da partida. Partem quase todos no mesmo horário. Creio que uns dez barcos, cada um com dez a doze ocupantes saíram naquele horário. Gente de todo mundo. No nosso carro estava um grupo familiar de quatro italianos e mais três mulheres. As lanchas - ditas “voadoras” - de alumínio e equipadas com motores de 90 a 120 cavalos, são potentes e velozes. O guia, que também é o piloto, vai apontando os pontos importantes do passeio: árvores, flores, pássaros, etc. O Rio Preguiça, extremamente sinuoso e caudaloso, serpenteia pela região antes de chegar ao mar. Tem também muitos braços, formando ilhas intermediárias, de forma que o turista fica perdido nos meandros do rio.



A paisagem é típica de manguezal, mas um manguezal robusto, alto, diferente do de Santa Catarina, a não ser pela aparência da vegetação. Nossa lancha chamava-se Marcelo VII e vimos também outra, Marcelo V, o que quer dizer que os barcos são batizados com o nome provavelmente do dono. Ocupamos os bancos da frente e por isso quase não ouvíamos nada do que o nosso guia, “Macaco”, dizia. Andamos uma meia hora e paramos em Vassouras, local onde há uma lanchonete, com telhado de palha, ampla, com diversas mesas para refrescar e dar uma pausa aos turistas. Além do artesanato que está presente em todos os pontos de parada, das bebidas, e dos sorvetes, etc., o grande atrativo de Vassouras são os macaquinhos que se misturam às pessoas esperando migalhas de comida ou na espreitando para roubar o que puderem. Não são agressivos e estão sempre em sobressalto prontos para fugir de possíveis agressões. Todavia, são espertos, audaciosos e rápidos para surpreender e catar uma castanha de caju ou um pedaço de banana em fatias, fruta que é vendida especialmente para alimentar os micos. Há muitos macacos e sua presença torna a estada em Vassouras muito divertida.



As saídas e entradas nas lanchas são feitas na base do pulo. A lancha atraca na areia e é preciso vencer os 80, 90 ou 100 cm da borda até o chão, geralmente ainda dentro d’água. Para os velhos, sempre é bem-vinda uma mão amiga ou então, senta-se na borda e escorrega-se para a areia, caindo em pé. Nada que seja impossível  ou muito difícil. É obrigatório o uso de colete salva-vidas. Embarcados novamente, mais um pouco e chegamos a um dos objetivos da viagem: o Farol de Mandacaru.



Tem 160 degraus internos para serem vencidos, mas no final, conclui-se que vale a pena o esforço pela vista panorâmica que se tem lá de cima. A escada encaracolada não é tão estreita e pode acomodar uma fila subindo e outra descendo, desde que as pessoas se encolham nas suas posições.



 No pequeno porto do local encontramos outras barracas de artesanato que já nem recebem a nossa parada para ver. Dá dó de se ver tanto trabalho ali exposto sem um público vivamente interessado. Visto o forte, chegamos à localidade chamada Caburé, entre o Rio Preguiça e o Oceano Atlântico. Este foi o local de almoço. Ao desembarcarmos, uma funcionária nos recebeu na areia. O sol caía pesado. O restaurante fica à beira do rio e dispõe de muitas mesas. Aqui se faz o pedido e enquanto espera-se, pode-se ir à praia, a escolher: de rio ou de mar. O tempo de praia a gente determina, mas no geral é de meia a uma hora. Escolhemos ir ao mar. Do restaurante ao mar são cerca de 500 m e fomos caminhando, mas poderíamos ter alugado um quadriciclo. Não sabemos o preço, pois não nos interessamos. A faixa de areia é extensa e aproveitamos mais tempo numa das muitas lagoinhas que se formaram com a maré vazante do que no mar propriamente dito. Sempre levávamos as nossas sacolas com toalhas e outras bugigangas. Voltamos e o almoço estava pronto. É fácil imaginar a fome que toma conta da gente numa hora dessas. Só com o café da manhã e depois de caminhar ao sol e tomar banhos de mar, o apetite está a mil. Pedimos peixe grelhado e vieram duas postas bonitas de pescada. Pedimos pirão, pois o prato escolhido não contemplava esse item tão comum nas refeições daqui.  Aqui tomei o melhor suco de caju de que me lembro. Satisfeitos, estávamos prontos para outra. Esta refeição relativamente foi bem mais cara do que as servidas nos restaurantes da Beira-Rio.  Custou 97 reais. Enquanto estávamos sentados e almoçando, ficamos a observar a pousada (Pousada do Paulo) que faz parte do restaurante (ou o contrário?). Conversando com o garçom, soubemos que ninguém mora ali e que há quatro pousadas em Caburé. A energia é produzida em gerador próprio que desliga às 23h e só religa no outro dia de manhã. Calor e mosquitos? Disse que não existem ali. Desnecessários ventiladores e inseticidas. Acreditamos porque o vento refrescante está sempre presente e não há matos e banhados para criar mosquitos. Ficamos a imaginar a tranqüilidade que o lugar ofereceria para uma ou duas noites de hospedagem, a espera do anoitecer apenas ouvindo o barulho do mar e as refeições deliciosas com pratos a base de peixe. Depois, só o murmúrio do mar e ... estrelas.



Acima: Pousadas de Caburé – entre o Rio Preguiça e o mar
O guia havia oferecido aos passageiros do nosso barco um passeio extra no Rio Preguiça. Apenas três mulheres não quiseram ir e ficaram em Caburé aguardando. O barco andou quinze minutos e passamos por algumas povoações dispersas naquelas terras de muita areia e manguezais. O guia buscava um casal de turistas que estava hospedado naquelas choupanas. Encontramos uma moça com uma mala na beira do rio. Fomos até ela. Era estrangeira e não era a pessoa procurada. O guia nos largou num banco de areia no meio do leito do rio e foi atrás das pessoas que procurava. A maré estava subindo e ficaríamos ali cerca de meia hora. As ondinhas de areia que vemos nas praias ali eram de metro de largura e longas formando verdadeiras banheiras no meio do rio.



Aproveitamos para nos refrescar e aproveitar aquele visual. A areia era movediça e se ficássemos parados os pés afundavam entrando facilmente meia canela logo nos primeiros segundos. A Carmen foi tirar uma foto para um casal e quando quis sair estava com as duas pernas enterradas. Mas safou-se e sobreviveu. Saindo da beira d’água, o chão era firme.



 Caminhamos, rolamos nas banheiras, tiramos fotos e logo a lancha estava de volta para nos pegar e encerrar o nosso passeio. O guia não encontrou quem procurava. Em Caburé pegamos as três pessoas que faltavam e tomamos o caminho de volta. Na última parada que fizemos no rio, sem sairmos das voadoras, avistamos um banco de areia num dos ramais do rio Preguiça com centenas de garças brancas. Elas são atração turística do passeio. À nossa aproximação com motores desligados, caminham em bando e reclamam enchendo o ambiente de sons agradáveis. Chegamos ao porto de Barreirinhas no final da tarde. Uma camionete Ranger cabinada e com bancos na carroceria (quase todas aqui tem bancos na carroceria) nos aguardava. Na pousada, tomamos banho e rumamos para a Beira-Rio. Dessa vez escolhemos o restaurante Atairu. Tinha wifi e pudemos ler emails e nos atualizar, embora com dificuldade. Prato: pescada amarela com molho de camarão. A Carmen pediu um café com leite e tapioca participando também da peixada. Temos comido além do usual à noite e a caminhada de 15 minutos tem sido um atenuante para a digestão. Mesmo assim, no dia anterior, quando tomamos duas cervejas de 600ml, sentimos o estômago pesado. Não foi o caso desse dia 22.

Dia 23/08/2013 – Último dia – Sobrevoo e Lagoa Bonita.
Desde quando fizemos a nossa reserva para Barreirinhas vínhamos sendo tentados pelo sobrevôo. Pensávamos: vir de tão longe, provavelmente numa única vez, não seria uma perda de oportunidade deixar de ver os famosos lençóis de cima, em toda sua majestade? Decidimos bancar a despesa. Pelas 10h da manhã levantamos vôo num Cesna para quatro ocupantes, piloto inclusive. Encontram-se em operação três aeronaves, duas do tipo Cesna e outra tipo Bandeirante, com 6 lugares. A vantagem da “nossa” é que ela tem asas sobre a fuselagem, permitindo melhores fotografias. No aeroporto encontramos uma família de alemães que iriam também fazer o sobrevôo. Um deles foi conosco para acomodar todo mundo em dois vôos. Esse alemão que nos acompanhou fala português e morou três anos em São Paulo. Aqui conheceu sua mulher, brasileira, levou-a para a Alemanha e têm um filho de 20 anos, que não veio. Viajar com os pais nessa idade é vergonhoso para os jovens alemães, segundo eles. O rapaz fala português e diz que virá novamente ao Brasil quando decidir. Os outros alemães eram amigos do casal.



Não é preciso dizer que o visual dos Lençois é fabuloso. São centenas, senão milhares de lagoas, todas azuladas ou esverdeadas e outras manchadas pela acumulação de algas. O vôo se dá por cima do Rio Preguiça, acompanhando o trajeto dos passeios de lancha. Lá de cima pode-se ver a sinuosidade até exagerada do Rio Preguiça. É impressionante com dá grandes voltas indo e voltando antes de chegar no Atlântico. Quando o avião sobrevoa o Farol e Caburé, faz uma curva para a esquerda para que se observe a foz do rio. Avista-se também as pequenas aglomerações de casebres e choupanas perdidas naquele fim de mundo. Depois, penetra  no espaço dos Grandes Lençois. É um visual inesquecível. Aquele branco estendendo-se a perder de vista, em ondulações sem fim. E a gente fica imaginando a grandeza desse país. E tome foto.



A única coisa a lamentar é a curta duração do vôo. A vontade era de ficar mais tempo degustando aquela beleza. Mas, o que é bom dura pouco, como diz o dito popular. E logo estávamos no solo. Pagamos a conta no Centrinho, na agência de viagem responsável.
Decidimos ficar pelo Centrinho, porque senão teríamos de voltar da Pousada e caminhar o dobro.  Depois, também queríamos ver como era a vida local. Tomamos água de coco sentados à sombra num dos bancos da praça da matriz, visitamos uma loja de artesanato onde vimos um gato todo pisado vítima de ataque de um cãozinho pouco amigo, e andamos pelas ruas centrais onde o comércio estava a mil. Tivemos má impressão da higiene do comércio. Peixes são expostos, inteiros e abertos, frescos e salgados; carnes penduradas ao ar livre; panelas, frutas e verduras tudo misturado a um tráfego de veículos, principalmente motos, com aquela fumaceira típica. O que mais impressionou foi uma galinha meio que depenada viva sendo preparada para ser levada pelo comprador.



O sol castigava bem na vertical. Era quase meio-dia e eu sem boné. Não levara boné porque imaginava retornar à pousada depois do vôo. Tratamos de achar um local para almoçar e escolhemos o restaurante A Canoa, que dizia wifi na placa de identificação. Em termos de comida, OK, mas em termos de internet, nota zero. Se um foi ruim, o outro, o peixe com molho de maracujá, estava um primor. Depois do almoço, enfrentamos o sol a pino, escolhemos o atalho pelas dunas e chegamos à Pousada. Tomamos banho e aproveitamos a hora livre para aguardar com calma o passeio da tarde: Lagoa Bonita.
Novamente nos empuleiramos na Toyota e fomos. Atravessamos o rio em outra balsa, noutro lugar. E agora foi quase uma hora de viagem para chegarmos aos Lençois.  Esse trajeto é cheio de riachos e banhados que as Toyotas têm de vencer. Na nossa camionete iam três russas que estão também na pousada. Uma delas, no início da viagem, mas já nas planícies arenosas, se deu conta de que perdera o celular. A camionete parou, e as três, mais o guia e um dos passageiros, voltaram a pé por uns 500m e nada acharam. Retornaram sem o celular. Ao chegarmos aos Lençois, havia uma duna de 40m de altura para ser vencida, e foi escalada no primeiro e mais íngreme trecho, com a ajuda de uma corda cuja extremidade estava fixada num arbusto lá em cima. O trecho superior, nos últimos dez metros, foi na raça. Chega-se lá em cima bufando. Coração a 160 e canelas doendo. Em compensação, quando se chega no cume, esquece-se todo o sofrimento. A visão dos Lençois, mais uma vez, deixa todo mundo de boca aberta, estupefatos com o visual magnífico. A partir daí, caminhamos descendo até a primeira lagoa onde todos entraram na água. Permanecemos uns 20 minutos e voltamos a caminhar em busca de outras lagoas.



Subimos e descemos muitas dunas. Nessas alturas já tínhamos um bom relacionamento com uma família que estava na pousada: a família de Bernardino, Marely, pais, e de Helga e Artur, filhos, paulistas do interior próximo à metrópole de São Paulo. Ficamos muito tempo conversando deitados e meio submersos naquelas águas refrescantes. Quando o sol começou a declinar, iniciamos a caminhada de volta e então pudemos ver como as dunas se transformam num grande, contínuo e lento movimento. O vento criava uma camada de areia flutuante de uns 30 cm de altura, fazendo como que um manto visível passasse rastejando sobre as dunas, agitando-se para norte. Fotos e fotos.



Chegamos ao ponto mais alto, já nas bordas dos Lençois e junto ao estacionamento. Para ali convergiram todos os turistas, em número aproximado de oitenta pessoas. Observamos o pôr-do-sol e iniciamos a descida. Para baixo todo santo ajuda. Os 40m de altura foram facilmente vencidos. No sopé da duna, tapioca, castanha de caju e cafezinho esperavam os turistas, a um custo, é claro. Mas baratinho. Depois dali, outros 60 minutos de piruetas, solavancos, rodopios, até chegarmos às balsas. Nesse ponto, mais de uma dezena de barracas de artesanato perfilavam-se. O pessoal olha e não compra nada. Uma pena.  Na vinda, quando descemos da balsa, tivemos de por os pés na água. Agora, no embarque, tivemos acesso por um trapiche lateral. Não sei por que não os indicaram o trapiche na vinda. Uma coisa que tem me impressionado demais é a quantidade de cajueiros que existe em todo lugar. Um dos guias disse que era cajui, um caju pequeno e amargo, mas com gosto de caju e que é comestível, mas tem de ser adocicado. Fico a imaginar se essa fruta é bem aproveitada, pois existe em profusão. Chegamos à Pousada e com isso encerramos nossos passeios em Barreirinhas. Tomamos banho e rumamos para a Beira-Rio, agora pelo atalho das dunas, que encurta bastante o caminho, mas exige andar pela beira do rio e por cima de parte das dunas locais. Nosso jantar foi novamente no Atairu por causa da internet. Aqui pelo menos se tem condições de abrir emails e enviar respostas, embora nada de muito veloz. A Pousada não tem internet e isso é um ponto negativo. Quando terminávamos, passou um casal que veio conosco na van desde São Luis: Cristina e Natálio. A gente se encontrava de vez em quando, e Cristina sempre saudava a Carmen, mesmo de longe, mostrando interesse em manter o contato amigável. Embora tenhamos conversado algumas vezes, ainda não sabíamos seus nomes e só a Cristina sabia o da Carmen. Já sabíamos a história e o plano de viagem deles – andaram no Pará, na região mineira de Carajás sem conseguir chegar às minas – e conhecíamos a vocação que eles têm para viagens para lugares diferentes. Estão indo agora em direção à Tutóia, pelos caminhos difíceis do interior do Maranhão, passando pelo delta do Parnaíba e depois até Jericoacoara para, finalmente atingirem Fortaleza, donde voltam para casa. Gente muito legal. Trocamos nomes e endereços para encontros que se alinhavam mas dificilmente acontecem. Se acontecerem, serão gratas surpresas. O mesmo acontece com relação aos nossos vizinhos de Pousada paulistas já mencionados acima. Jantados, voltamos pelo atalho e desta vez tivemos que andar pelos corredores junto aos muros porque a maré subira e teríamos de molhar os calçados se fôssemos por baixo. Mas deu. Chegamos à Pousada depois das 22h quando então começou o ... Reggae num clube a uma quadra de distância. E a música foi até às 2h da manhã, a todo volume. Felizmente o chalé tem boa vedação acústica e o volume ficava bastante atenuado, mas mesmo assim ficamos assistindo um filme (título do filme: Desconhecido) até a uma da manhã. Deitamos e dormimos até às 6h, quando levantamos para o café da manhã, visto que o taxi que arrumamos para São Luis nos pegaria às 8h. Tomamos café, pagamos as contas e estávamos prontos. Na mesa do café nos despedimos dos quatro paulistas. Nosso esquema de volta previa a viagem para as 14h, mas como não tínhamos mais nada a fazer em Barreirinhas, resolvemos sair mais cedo. O Ribamar, dono da pousada, agendou o táxi de um amigo para fazer a viagem. Não foi um bom negócio, pois pagamos o mesmo preço, mas viemos apertado no banco de trás dum carro tipo Chevette e ainda levando entre nós mais um passageiro pego na estrada. E sem ar condicionado. Chegamos a São Luis pouco depois do meio-dia. E assim terminou a etapa Barreirinhas.   




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